quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Cultivar a Autocompaixão e Curar o Perfecionismo

Photo by Tim Mossholder on Unsplash

“Se não se ama, não será capaz de amar os outros. Se não sente compaixão por si, não será capaz de sentir compaixão pelos outros.” Dalai Lama

A autocompaixão é a compaixão que temos connosco próprios, com o nosso próprio sofrimento e imperfeições. Quando praticamos compaixão cuidamos de nós e tratamo-nos com o mesmo carinho e gentileza com que tratamos as pessoas que mais amamos. Quando praticamos autocompaixão estamos a dar-nos aquilo que procuramos nos outros: amor incondicional, reconhecimento, aceitação e sensação de merecimento e valorização perante a vida.

Em pequenos não fomos educados para praticar a autocompaixão, bem pelo contrário, crescemos a acreditar que é egoísmo e que a autocrítica é necessária para a haver melhorias. Isto faz com que nunca fiquemos verdadeiramente felizes, nunca nos sintamos satisfeitos e suficientes, porque permanece o pensamento que podemos sempre fazer melhor. Assim, procurámos formas de nos protegermos da nossa vulnerabilidade, de nos sentirmos feridos ou desiludidos. Vestimos a armadura e aprendemos a esconder as partes de nós que consideramos “imperfeitas”. Cultivamos pensamentos, emoções e comportamentos que sentimos que nos protegem e assim nos vamos afastando da nossa autenticidade, integridade e alegria pura do nosso ser.

A autocompaixão é a melhor prática para quando nos sentimos desadequados ou insuficientes, quando falhamos ou erramos, quando estamos num grande esforço emocional e precisamos de fortalecer a nossa autoestima. Esta busca pela perfeição está a adoecer-nos e importa desconstruir os  mitos que têm sido desenvolvidos em torno do perfecionismo. É importante começar por esclarecer aquilo que o perfecionismo não é (de acordo com Brené Brown no livro “A Coragem de Ser Imperfeito):

  • Perfecionismo não é o mesmo que procurar a excelência. Não é uma realização saudável e de crescimento, é um gesto defensivo. É a crença de que se parecermos perfeitos, podemos minimizar a dor da censura, do julgamento e da vergonha. É uma armadura muito pesada que usamos a pensar que nos vai proteger, quando na verdade é aquilo que nos impede de ser vistos.
  • Perfecionismo não é autoaperfeiçoamento. O perfecionismo leva-nos a uma busca constante por validação e aprovação, muito devido ao facto de termos crescido com muitos elogios relacionados com os nossos resultados e desempenhos (notas, boas maneiras, cumprimento de regras, agradar às pessoas, aparência, desempenho desportivo,...). O perfecionismo tem um grande foco no exterior: o que é que eles vão pensar? Um esforço saudável no aperfeiçoamento e na excelência tem um foco interno: como posso melhorar/ aperfeiçoar?
  • O perfecionismo não é a chave para o sucesso. Os estudos têm demonstrado que o perfecionismo prejudica a concretização e leva à procrastinação. O perfecionismo está correlacionado com a depressão, a ansiedade, a dependência e a estagnação. O medo de falhar, de ser julgado ou criticado retira-nos a coragem de avançar e desenvolver um esforço saudável na concretização dos nossos sonhos ou objetivos.
  • O perfecionismo não é uma forma de evitar a vergonha. É uma forma de vergonha, o sentimento de que temos que esconder algo sobre nós, para não sermos completamente vistos.

O perfecionismo é autodestrutivo simplesmente porque a perfeição não existe! É um objetivo inalcansável. Podemos ao invés celebrar o nosso progresso e o feedback que os falhanços nos dão para melhorar.

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O antídoto para nos libertarmos do perfecionismo é praticar muito a autocompaixão, é saber que fazemos o melhor que conseguimos com os recursos que temos a cada momento. Isto implica transformar a voz que nos diz: "o que é que as pessoas vão pensar?" para "Eu sou suficiente e tenho valor, independentemente dos meus resultados, e mereço todo o amor e conexão do mundo!". Para isso temos de ser mais generosos conosco e abraçar as nossas falhas e imperfeições, temos de ser menos duros conosco e com os outros. Temos de cultivar a autocompaixão e isso requer honrar e aceitar que somos imperfeitos, e está tudo bem.

A autocompaixão, segundo a Dra. Kristin Neff, a cientista que mais se dedica ao estudo da compaixão, é composta por três componentes:
  • Autobenevolência: Ser caloroso e compreensivo em relação a nós próprios quando sofremos, falhamos ou nos sentimos desadequados, em vez de ignorarmos a nossa dor ou nos aprisionarmos com autocrítica e julgamentos.
  • Humanidade comum: a humanidade comum reconhece que o sofrimento e sentimentos de inadequação pessoal fazem parte de uma experiência humana partilhada. Algo pelo qual todos passamos e sentimo-nos menos isolados porque sabemos que não nos acontece só a "mim".
  • Atenção plena: ter uma abordagem equilibrada perante as emoções que nos desafiam e causam sofrimento para que os sentimentos não sejam reprimidos ou exagerados. Não podemos ignorar a nossa dor e sentir compaixão ao mesmo tempo. A atenção plena requer que não nos identifiquemos com os pensamentos e emoções de forma a sermos levados por eles.
A autocompaixão permite que nos coloquemos na perspetiva de observador da nossa própria dor, emoções e sentimentos e entender que não precisamos de acreditar nas histórias do comentador interno. A nossa sensação de merecimento, a crença de que somos suficientes, implica aceitar e assumir as nossas experiências de falhanço e imperfeição, aquelas que não encaixam em quem pensamos que devemos ser e que fazem depender da aprovação dos outros a nossa valorização pessoal e sensação de merecimento.

O perfecionismo retira-nos energia e esmaga a nossa alegria e criatividade. Vamos praticar a autocompaixão, abraçar a nossa vulnerabilidade, ver a nossa perfeição na imperfeição e viver esta humanidade partilhada, em consciência e amor?

Escreve-vos uma perfecionista em recuperação.


Em amor...
Com Alma, Corpo e Mente

Cristina Batalha
cristinabatalha@gmail.com

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