segunda-feira, 11 de maio de 2020

O lado social da refeição

Não é novidade, para quem nos segue no Alma, a importância que damos à alimentação e de como vemos o ato de alimentar como uma demonstração de amor. Nesse sentido, hoje debruçamo-nos sobre este tópico de uma perspetiva mais abrangente: a refeição como ato social e a sua importância nos primeiros anos de vida do indivíduo.

imagem: Aldi



A hora da refeição é dos aspetos mais importantes que temos na nossa vida, seja no contexto familiar seja com amigos ou colegas. Comer em família, mesmo em tempos de pandemia, é a oportunidade de podermos parar e conversar uns com os outros, partilhando o alimento físico e emocional.
Imagem: Bigstock

Ainda em bebé, quando a mãe está sozinha a amamentar o bebé, este um momento em que mãe e filho se olham nos olhos, aumentando assim o sentimento de segurança e confiança. Isso é algo que marca para sempre o indivíduo.

Quando a criança pequena já participa nas refeições à mesa, pode observar os adultos e por imitação, aprende a usar os talheres e o copo, a estar à mesa, a apreciar a comida, enquanto ouve os outros e espera para se levantar. Tudo reflete a ambiência social. 


É fácil, pois, entender o impacto que esta experiência diária terá na relação que a criança vai ter com a comida a longo prazo. 

O que as crianças vivenciam à refeição vai projetar a postura e opções que vão adotar quando forem adultos. Mas criar este momento, a refeição em família, e torná-lo um ato de amor, requer prática e doses de paciência.

Por exemplo, enquanto a criança observa os adultos sentados a servirem-se uns aos outros, a interagirem entre si, a mastigar, ela aprende o que é o respeito e como se comportar à mesa. Além disso, quando o ambiente é tranquilo, a relação com a comida mais tarde será também harmoniosa. 

                                         imagem: Fowls Comics


Por outro lado, se uma criança em casa é obrigada a comer «à força» ou se tem de comer a correr, pode mais tarde desenvolver distúrbios alimentares. 

Mas atenção: uma coisa é forçar a criança a comer mais do que ela consegue.

Outra bem diferente é admitir que todos os dias a criança deixe um restinho porque «já está cheia».
imagem: Fowls Comics


Ou seja, permitir que deixar comida se torne uma prática diária. Isso é desperdício e é desvalorizar os alimentos e tudo o que envolve a comida chegar ao prato.



É-me difícil aceitar que crianças comam em momentos desfasados dos adultos quando é possível estarem juntos. Sei que provavelmente tudo na mesa vai transbordar, que há o escândalo por causa dos legumes que diz que não gosta, que podem demorar uma eternidade para terminar a refeição, etc. 

Ainda assim, se considerarmos o impacto que as refeições em família terão mais tarde, constatamos que o esforço vale a pena.


A minha posição firme neste aspeto talvez se deva, justamente, a ter tido a experiência pessoal, perto da adolescência, de uma total anarquia em casa no que às refeições dizia respeito. Cada uma comia quando e onde entendia, mesmo havendo a possibilidade de comermos as três à mesa ao mesmo tempo.

Pura e simplesmente porque o adulto presente cedia à teimosia anárquica das adolescentes e, exausto do trabalho, não se empenhava em manter o momento social que era a refeição.

A refeição é talvez o único momento do dia em que se proporciona um diálogo entre os membros da família, em que existe a oportunidade de saberem uns dos outros e detetar se alguém está mal através do olhar.

Talvez estes tempos em casa sejam a altura ideal para fortalecer esta experiência familiar/social, que requer saber coisas para alguns simples e óbvias, para outros não tanto: desde fazer as compras, cozinhar e levar a refeição a bom porto.

Aproveite cada passo do processo para instituir hábitos saudáveis, tanto do ponto de vista alimentar como social e educacional. Acima de tudo, envolva os elementos da família.

Mindfulness no momento de ir às compras
Opte pelo mercado ou mercearia locais, onde os sentidos ficam mais despertos: escolhemos alimentos frescos e coloridos, interagimos com os vendedores do costume, com quem mais cedo ou mais tarde criamos laços. Ah, não se esqueça: leve os sacos de panos ou um cesto em vez de comprar sacos de plástico.

Imagem: @NeONBRAND

Consumo como educação e ética
O que compramos e onde compramos transmite ética. Ao escolhermos o que consumimos e onde compramos estamos a dar o nosso dinheiro a determinada entidade em detrimento de outra.
Comprar local ajuda a regenerar a sua comunidade.
Comprar a pequenos produtores geralmente significa mais qualidade e pagar um preço justo aos trabalhadores.
Em que é que isto tem a ver com educação? A ética é dos valores mais preciosos que pode transmitir aos seus filhos.

Participação das crianças

imagem:TIJANAM - SHUTTERSTOCK


Conte com os mais pequenos na hora de planear as refeições, escrever a lista de compras (se for com desenhos é ainda mais giro), preparar os alimentos, cortar os vegetais e a fruta, pôr a mesa... tudo são tarefas que podem ser divertidas e pedagógicas.


Autonomia
Adicionar legenda

Permita que a criança se sirva. Mesmo que requeiram alguma ajuda, reforce a autonomia dos mais pequenos.

Quando já não é um bebé, dê-lhe sempre faca e garfo, mesmo que ainda só saiba usar o garfo (apropriados à idade, como é evidente).

À mesa fala-se, sim!
Desliguem os ecrãs e conversem. Pergunte aos seus filhos pelos amigos, por um momento interessante que tiveram nesse dia. 
Converse também com o seu companheiro/a, sobre assuntos leves, com contacto visual. 

Imagem: Bill-Garland



Agradecer a refeição 
Quando expressamos conscientemente palavras e sentimentos positivos perante a refeição partilhada, a relação com a comida será também mais saudável. 


Os hábitos de amanhã serão, sem dúvida, reflexo da educação de hoje.


Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente


Marta Ribeiro
martaperalribeiro@gmail.com

quinta-feira, 30 de abril de 2020

A Culpa

Posso sentir-me culpada/o quando tenho a impressão de ter retirado um direito a alguém ou em situações nas quais sinto que perco o auto-controlo.

Num encontro muito bonito de mulheres, uma das participantes partilhou a sua sensação de culpa, por se ter separado do ex-marido pois sentia que essa decisão se estava a refletir na instabilidade emocional do filho. 

A razão da separação fez-me pensar no meu próprio divórcio: já não se amavam, eram apenas amigos. Tal como também me aconteceu, a decisão dela foi estranha para todos os contactos próximos que não o esperavam e ficaram surpreendidos.

A questão da culpa, especificamente, era reforçada pelo comportamento da mãe desta mulher que opinava negativamente sobre a decisão do divórcio. 

Mas a quem seria que ela sentia que estava a retirar um direito? (Sentindo-se culpada por isso).
Ao seu filho, possivelmente. O direito a estar estável, a ser "mais feliz". (Na sua percepção).

Mas, pergunto eu, quem seriam ela e o pai da criança a viver lado a lado sem que fosse essa a sua vontade? Que exemplo estariam a dar ao seu filho para ele construir os seus próprios relacionamentos amorosos no futuro?

Imagem em www.tardecommaria.com.br

Penso na dureza e exigência que ainda nos colocamos sobre os ombros em situações como esta (e noutras também). Em como, mesmo sendo mulheres adultas, nos continuamos a sentir julgadas pelas nossas mães ou a querer corresponder aos modelos dos nossos pais nas nossas decisões pessoais.


A nossa mãe e o nosso pai são apenas dois adultos como nós. Travam as mesmas lutas internas que nós travamos e vivem ou viveram desafios parecidos aos nossos com os seus próprios progenitores.

Chega um momento às nossas vidas em que necessitamos ativar e conectar com os nossos pai e mãe internos, masculino e feminino adultos que vivem em união sagrada dentro de nós. É este casal que agora nos suporta e ampara nas nossas decisões e no nosso caminho, validando-nos. Eles representam nosso lado adulto.

Descobrir mãe e pai internos implica um corte do cordão umbilical com os nossos pais biológicos, já não os responsabilizando de nada. Simplesmente, aceitando-os como são: adultos imperfeitos, como nós, a fazer o seu melhor em cada dia.

Descobrir mãe e pai internos é assumir a responsabilidade pelos nossos sentimentos e emoções e cuidarmo-nos nesse sentir. Com gentileza, dar a esse adulto que sente culpa um espaço para se expressar, acolhendo-o sem julgamento.

Se não sentimos essa disponibilidade da parte dos nossos pais então podemos nós criar esse espaço e lugar de conforto. 

Como?

Começando por nos permitir sentir essa culpa (ou outra sensação que se manifeste) dando-lhe espaço e autorização para se mostrar. Olhar a sensação de frente, mas não em desafio, simplesmente em compaixão e amor.

Em seguida podemos dizer-nos: - És humana/o, feita/o de imperfeições e também com imensas qualidades. Aceitar e expressar a culpa é um corajoso movimento de vulnerabilidade.

E se sentes culpa (especificamente nesse caso) pergunta-te:
- A quem sinto que estou a retirar um direito?
- Que direito é esse?
(Ou eventualmente, com quem sinto que perdi o controlo ou fui reativo?)

Depois dessa reflexão, procura sentir quais são as crenças pessoais que estão por detrás das respostas. No exemplo da mãe que se separou do pai do seu filho pode estar a crença:
- Sou péssima mãe porque me separei a pensar no meu bem-estar e isso provocou instabilidade no meu filho.
ou
- Desiludi a minha mãe / família / amigos.

Agora, suavemente, conecta com as crenças que surgiram e procura ressignificá-las de uma forma construtiva.

Pode surgir algo como:
- Ao tomar consciência da falta de amor na minha relação, decidi separar-me e isso trouxe-me paz interior e equilibrio. Foi uma decisão que respeitou o meu bem-estar e amor-próprio. Quero que o meu filho sinta que pode decidir como eu quando estiver numa relação que já não o satisfaz, nem o faz feliz. Sinto que através das minhas decisões sou um bom exemplo de honestidade e amor para ele.

- Sinto ainda que posso representar força emocional para a minha mãe, pois pude tomar uma decisão complicada colocando-me em primeiro lugar, estou a tornar-me uma mulher mais forte e ao mesmo tempo estou a aceitar a minha imperfeição e vulnerabilidade na forma como vivo.

- Posso ser uma influência positiva para os meus amigos que já não se sentem felizes nos seus relacionamentos, criando novos modelos de vida onde também posso viver em plenitude (independentemente de ter ou não um/a companheiro/a).

Não permitas que a culpa se manifeste em ti, sem olhares para ela e sem a acolheres.
Podes aprender mais sobre ti se escutares essa sensação e podes também assumir a responsabilidade de te cuidares emocionalmente, escutando-te sem julgamento e ressignificando crenças que limitam a expressão verdadeira do teu ser.

Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente.

Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com

sábado, 11 de abril de 2020

Despir o corpo é fácil... Já alguma vez despiste a Alma?

A Alma é aquele lugar que está para lá da pele.

Não se vê com os olhos, não se cheira nem se lambe. A alma vai para além dos sentidos que vivem à superfície.

Habita-nos, mas não a mostramos. 

Guarda os nossos segredos, enaltece as nossas fragilidades, contém a nossa essência e liberta-nos do corpo e do ego.

Desvestir a alma é considerado um ato heróico. Já alguma vez te mostraste desde esse lugar etéreo, puro, sublime? Não te sintas mal se a tua reposta for não… Acredito que navegamos juntos/as nesse barco.

Possivelmente nem sequer nos permitimos a nós próprios/as transcender o corpo e mergulhar fundo para alcançar essa conexão profunda e essencial com o nosso Ser Divino.

Resistimos a dar esse salto para o que pensamos ser um vazio, o desconhecido.

Quando somos paridos/as neste mundo, a nossa alma chega sem roupa, sem proteção, vindo ainda conectada com o universo infinito.  
Assim que chegamos começamos a viver a angústia da separação, da desconexão e a sentirmo-nos sozinhos e desamparados se não somos acolhidos nos braços e na pele da nossa mãe.

À medida que crescemos, a nossa alma, essência ou espontaneidade (como lhe queiras chamar) vai ganhando novas peles e novas roupas. Condicionamentos. Modelos. Vamos vestindo-a até com aquilo que não lhe pertence, que não lhe serve e que não respeita o seu tamanho.

A alma, ao longo do tempo, começa a vestir-se de vergonha, tristeza, falta de auto-estima, necessidade de perfeição, … E não damos conta de que estamos a esconder quem realmente somos, para nos adaptarmos a um mundo que insiste em nos condicionar nos seus modelos e padrões.

Recuperar a conexão com a nossa alma é um exercício de beleza imensa, que pode ser feito em verdade e sem filtros por todas as pessoas. Despir a alma implica ter a ousadia de derreter algumas couraças que fomos criando no nosso corpo emocional e a coragem de nos voltarmos a ver sem roupas, sem corpo, nem ego…

Implica conectarmos com as nossas feridas, escondidas atrás de grossas camadas, para depois as tocarmos e acariciarmos com amor e aceitação. Despir a alma é um exercício de valentia, sim. De coragem e empoderamento.

Experimenta sentar-te em posição de meditação frente a um espelho. Reserva pelo menos 30 minutos para ti e coloca uma música que te ajude a entrar num estado meditativo, de conexão contigo, com o teu Ser mais profundo e divino. (Se quiseres segue a meditação guiada que te disponibilizamos no fim deste post).

Faz algumas respirações lentas e profundas e quando estiveres preparado/a, olha para ti no espelho, olha-te nos olhos. Conecta-te profundamente com esse ser que está à tua frente e que está prestes a mostrar-te o reflexo da tua alma.

Quando te sentires totalmente conectado/a contigo, começa a desvestir a tua alma… Devagar e no teu tempo, despe um acessório ou peça de roupa que tenhas vestido e diz para ti mesmo/a em voz alta o que realmente estás a despir:

- Eu dispo a vergonha que sinto. (por exemplo)

Mantém sempre a conexão contigo, em amor e vulnerabilidade e continua a retirar cada peça de roupa à medida que te vais dizendo aquilo que estás a despir:

- Eu dispo o perfeccionismo… Eu dispo a sensação de inferioridade… Eu dispo o achar-me feio/a… Eu dispo a vitimização…

Despe tudo, tudo aquilo que está a esconder a tua essência, tudo aquilo que te impede de conectar diretamente com a tua alma. E mesmo quando já te encontrares nu/a frente a ti podes continuar a dizer o que queres despir até que sintas que já soltaste cada capa, cada condicionamento…

todos os direitos reservados

Sempre em conexão com o teu eu essencial, com todo o respeito e cuidado por ti mesmo/a começa agora a conectar com o teu corpo, sem capas, sem filtros e reconhece a beleza que existe nesse ser despido de preconceitos… sem capas ou filtros. Conecta com a tua alma e experimenta abraçar-te, tocar a tua pele em auto-cuidado, olhando cada cicatriz, cada imperfeição, acolhendo-te e perdoando-te por cada uma das vezes que foste quem sentias que não eras e te foste infiel comportando-te de maneiras que não querias.

Acolhe-te, abraça-te, celebra-te… Ama-te tal como és, sem te esconderes de ti próprio/a. Aceita-te. Mergulha no teu Ser mais puro, naquele lugar que sabes que faz parte de algo maior e entrega cada pedacinho de couraça ao universo para que seja transformado em amor e liberdade. 

Olha para ti no espelho, profundamente. Atravessa a tua pele, carne, ossos, atravessa o espelho, e funde-te em puro amor com o teu Ser essencial. Respira profundamente, fecha os olhos, sente o teu corpo e a tua alma a expandirem-se para além dos condicionamentos e das limitações que te impediram de ser quem és. Respira.

Respira e permite-te ficar nesse estado durante o tempo que precisares e sentires.

Quando regressares a ti, no teu ritmo e no teu tempo, começa a vestir-te com as novas roupas da tua Alma. 

À medida que voltas a vestir-te podes dizer:

- Eu visto amor-próprio.

- Eu visto confiança em mim mesmo/a.

- Eu visto alegria. Eu visto leveza. Eu visto liberdade para ser quem sou. Eu visto verdade nas minhas relações...

Veste tudo aquilo que a tua Alma te pedir e diz-te a ti mesmo/a o que estás a vestir. Veste cada roupa e acessório com gentileza e amor. Toma o teu tempo e respira profundamente, acolhendo o teu Ser. 

Para terminar o exercício podes sorrir, para ti, em frente ao espelho, podes levantar-te e mover o teu corpo, dançar numa celebração que acolhe o teu Ser Divino e Essencial. Estás agora mais em verdade contigo! Sê bem-vindo/a a uma relação mais honesta com a tua Alma!


Se preferires podes fazer esta meditação de forma guiada, escutando o audio que te disponibilizamos aqui:





Em Amor,
com Alma, Corpo e Mente!

Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Detox de Primavera e o que Perséfona tem para nos ensinar

Na mitologia grega é na primavera que Perséfona (Proserpina, na mitologia romana) deixa Hades (deus do mundo subterrâneo) e reencontra a mãe, Deméter (deusa dos Cereais), que pela alegria do reencontro renova a terra com fertilidade. Perséfona é a deusa que simboliza a primavera nas estações da vida de uma mulher. É a mulher jovem, fértil.


“Completei mais uma primavera.” Isto é o que costumamos dizer quando comemoramos o nosso aniversário. Justamente porque a Primavera está associada ciclos de renovação, ao vigor da juventude, ao crescimento e ao desenvolvimento.

Num plano físico, se pensarmos bem, algo semelhante ao que se passou com Perséfona acontece connosco. Relembrando: Perséfona, foi raptada por Hades e quando o deixou (na Primavera) reencontrou a mãe, Deméter, que ao rever a filha abençoa a terra com fertilidade. Também nós, ao longo do Inverno, a estação mais obscura e fria, consumimos alimentos mais calóricos e em quantidades maiores, acumulando toxinas. Esse desequilíbrio apela-nos à desintoxicação, à recuperação de vitalidade. Em última análise, que nos reencontremos connosco mesmas.

Primavera, energia Yang, Fígado
 Imagem de Codex Anatomicus

“Tens maus fígados!”

Quem não conhece esta expressão popular, que traduz a irritabilidade ou raiva de alguém?
E tem razão de ser. Este é o órgão que purifica o sangue, metaboliza as hormonas, elimina as toxinas, separa o trigo do joio, e afeta quase todos os outros órgãos. 

Se este órgão está em desequilíbrio, pode causar problemas em qualquer parte do corpo e revelar diversos sintomas, tais como:
  • a nível físico: desequilíbrio hormonal, má digestão, tensão muscular, inchaço ou inflamação nas articulações e erupções cutâneas. 
  • a nível mental: maior propensão para a frustração e irritabilidade. Podemos ter menos lucidez, menos capacidade para decidir e separar o que importa ou não.
Na Medicina Tradicional Chinesa, a Primavera está justamente associada ao fígado e também a um aumento da energia yang. Complementar à energia yin (associada à serenidade, ao frio, à racionalidade), a energia yang está associada à ação, ao calor, ao impulso. Não admira, pois, que o sistema energético do fígado seja responsável pela regulação da atividade sexual. 

Faz a experiência: observa-te a ti mesma e a quem te rodeia e verás que, por esta altura, a maioria de nós sente um borbulhar incontrolável a crescer dentro de nós. Podemos experimentar uma vontade enorme de nos exprimir, de criar (pintar, desenhar, cozinhar, escrever, aprender coisas novas), limpar a casa em profundidade, de fechar ciclos ou iniciar novos hábitos. E também há uma tendência para nos apaixonarmos. 

Novamente, a presença de Perséfona, símbolo de juventude, de possibilidades, de mudança.


Corpo e Mente

É importante lembrar que o corpo e a mente estão diretamente ligados, portanto o que vivemos no exterior afeta o interior. 

Num plano mais físico, quando guardamos ressentimentos ou frustrações, não estamos a ajudar o nosso fígado. O fígado é um órgão particularmente permeável à emoção, o que faz com que a raiva intensa ou crónica possa danificá-lo seriamente. Também a vesícula biliar é importante neste período. 

O melhor que temos a fazer – especialmente nesta fase em que convém ficar em casa – é cuidar da nossa saúde (física e mental) e prevenir as doenças. Sobretudo quem já tenha propensão a excesso de energia yang, convém estar atento. 

Quando as coisas não te saírem como gostarias, respira fundo e lembra-te que tudo passa. Procura soluções alternativas e não permitas que a ira te inflame por dentro. 

Por outro lado, não nos esqueçamos de quem tem deficiência de energia yang. Nestes casos, há tendência para a indecisão, para a timidez e uma maior suscetibilidade relativamente aos outros. Assim era Perséfona: uma deusa vulnerável, de natureza introvertida.


Alimentação

Os sabores ácidos tonificam o fígado e a vesícula biliar.

@dosejuice2
@dosejuice2




Por isso, nesta altura opta pelos seguintes alimentos:

  • Verduras – brócolos, espinafres, agriões, acelgas, rúcula, nabiças, aipo, curgete, couve. 
  • Frutas – maçã, laranja, toranja, morango, ameixa
  • Leguminosas – feijão, lentilhas, ervilhas, favas
  • Ervas – salsa, manjericão, cebolinho, alecrim, dente de leão (não recomendado durante a gravidez)
  • Raizes – curcuma, gengibre
  • Germinados – rebentos de alfafa
  • Cereais integrais – arroz integral, millet (milho painço), centeio, aveia

Todavia, para aqueles casos em que a energia yang se apresenta insuficiente, o que pode traduzir-se em hesitação na tomada de decisões (e consequente frustração), vale a pena compensar com alimentos ou ervas que tenham de sabor picante, que vai potenciar a tomada de ação.




A evitar 

  • Óleo hidrogenado e outras gorduras de má qualidade. Estas dificultam a digestão. 
  • Açúcar. 
  • Álcool e outras drogas (açúcar quase ficou nesta categoria…) 
  • Refeições «pesadas»

Sugestões

@brookelark



Quando acordares bebe um copo de água com algumas gotas de limão, ainda em jejum.


Ao pequeno-almoço prepara uma papa de aveia com frutos secos.

Sumo: espreme meio limão (ou lima) para um copo com água, acrescenta algumas folhas de hortelã fresca e algumas rodelas de gengibre.

Legumes: coze-os a vapor e usa essa água para cozer o arroz/cereal.

Tempero: azeite virgem, limão, salsa, cebolinho; usa vinagre balsâmico.

Adiciona raiz de curcuma e gengibre aos teus pratos e bebidas (por exemplo, leite dourado).


Faz smoothies com espinafres, maçã e gengibre.

Para o lanche prepara uma boa granola – aveia levemente tostada com frutos secos (passas, amêndoas, tâmaras, etc), canela, um fio de mel ou geleia de arroz, e fruta fresca.



@caproche




Finalmente, sugiro-te que aproveites para espreitar as dicas que partilhámos no artigo que publicámos o ano passado, também por esta altura, com sugestões de limpeza da casa


Jean Shinoda Bolen, autora do livro “As Deusas em cada Mulher”, convida-nos a invocar as deusas quando precisarmos da sua energia ou inspiração, tentando conscientemente sentir a sua presença. Por exemplo: “Perséfona, ajuda-me a manter-me aberta e recetiva”.

Estamos de quarentena (a maioria de nós), por isso decide-te a aproveitá-la ao máximo. Ativa a tua Perséfona, mantém a lucidez (lucidez=com luz) e vive a Primavera no seu esplendor! E já agora, conta-nos as tuas estratégias para uma quarentena mais saudável😊

Em Amor…
Com Alma, Corpo e Mente



Marta Peral Ribeiro
martaperalribeiro@gmail.com

segunda-feira, 9 de março de 2020

Para onde vai o amor depois de nos separarmos?

Houve momentos em que o frio da solidão me assolou mesmo antes de a separação chegar.



Da mesma forma, um arrepio de abandono percorre-me as veias quando uma porta se fecha entre mim e um novo amor que vem pintar a vida, ainda que por dias ou semanas apenas. 

Separar-me sempre me custou, vivo a distância como se me arrancassem uma parte. E quanto mais profundo tiver sido o mergulho na experiência do amor, mais amputada me sinto. 

Das grandes despedidas resultaram grandes feridas que lambi e cuidei com paciência… Mas sobretudo com tempo e amor. Das “pequenas” despedidas (se é que existiram pequenas despedidas) ficaram novos vazios que forçosa e solitariamente destapei.

Cada despedida tem sido um convite à rendição, ao deixar ir, preferencialmente em desapego e consciência (mas nem sempre)… Sinto sempre a separação como um processo de morte. Uma morte da qual fugi muitas vezes. Enfrentar a morte implica conhecer o vazio da alma, aquele lugar para o qual ainda não conseguimos levar amor-próprio ou alegria e onde nos podemos submergir, aceitando o chamado para cruzar os nossos lugares de sombra. 

foto em: www.betalotti.com.br


Quando nos predispomos a fazer algo que nos custa (com um propósito construtivo), necessariamente iremos encontrar uma forma de lidar com a dificuldade. E cresceremos. Ao cruzar o túnel escuro da dor, estamos a permitir-nos encontrar novas formas para lidar com a escuridão e com o desconforto. 

Cada desafio nos permite descobrir dentro de nós os recursos emocionais para voltar a encher com amor e alegria os vazios deixados pela separação. Aprenderemos a fazer o resgate das sensações que sentimos em falta como o sentirmo-nos acompanhados, amados, preenchidos, etc… independentemente de estarmos a viver uma relação com outra(s) pessoa(s).

Durante algum tempo, a pessoa com quem nos partilhámos terá representado o “estar em casa”, essa pessoa terá visto em nós algo que nem nós próprios reconhecíamos e ter-nos-emos sentido amados e cheios de amor para dar. Pode acontecer que esse estado comece a deixar de estar presente e que progressivamente a outra pessoa deixe de representar a casa confortável e acolhedora que gostaríamos de conservar para sempre…

É nesse momento que surge o convite à rendição, ao aceitar que a casa já não está ali ou que precisa de remodelações. Na verdade, a casa que requer trabalhos é sempre a nossa casa interna, independentemente de quem nos faz companhia no seio das suas divisões.

Quando uma separação acontece, tendemos a encontrar responsáveis, a atribuir culpas e podemos ainda vitimizar-nos durante o processo. Podemos mesmo tentar evitar a separação a todo o custo, pelo medo de nos confrontarmos com as divisões vazias, frias e escuras da nossa casa interna abandonada.

Terá então chegado o momento de cuidar. Da casa, do jardim, do coração e do sentir. Terá então chegado o momento de passar algum tempo sozinho/a nessa casa que nos esquecemos de habitar enquanto achámos que outra pessoa era o nosso lar. Começamos por limpar o pó dos móveis, acendemos a lareira e cozinhamos uma refeição saborosa acompanhada de um bom vinho.

A seguir sentamo-nos no sofá e sorrimos. Sorrimos porque há alegria e satisfação naquela casa e, agora que atravessámos o túnel escuro da dor, sabemos que a casa onde vivemos é o nosso porto e o nosso abraço. E assim será para sempre. 

Mesmo que visitemos outras casas ou vivamos por muitos meses ou anos nas casas que partilhamos com outras pessoas, sabemos que jamais devemos deixar de cuidar a casa interna. Sabemos que dentro dela guardamos cada história e cada amor, cada vivência e cada emoção e, na beleza de sermos com cada pessoa, a podemos partilhar em abundância e comunhão. E, muito provavelmente, em amor e liberdade.

Na nossa casa interna cuidada jamais existe, nem existirá solidão ou separação!
Na nossa casa interna vive o amor... ❤️


Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com

quinta-feira, 5 de março de 2020

Álcool e Agressividade

Fala-se de violência doméstica mas muitas vezes não se relaciona esta questão com o consumo de álcool.

Como Portugal é produtor de álcool, e porque se consome socialmente, este não é considerado uma droga, tal como foi definida pela OMS em 2004. É uma droga porque actua no sistema nervoso do Ser e desiquilibra todos os seus comportamentos.

Os paises produtores de álcool, normalmente banalizam o consumo desta substância. 
Em Portugal o consumo inicia-se muito cedo nos jovens de 14 anos com excessos, aparecendo muitas vezes associado a comportamentos de agressividade e alguma violência.
Segundo a tese de mestrado de Ana Sofia Duarte Serra, (24336, Álcool e Criminalidade Mestrado em Psicologia da Justiça)

"É importante perceber que o álcool altera o funcionamento cerebral e, portanto, afeta os mecanismos biológicos do indivíduo, fazendo com que exista uma perda do controlo do impulso para beber álcool. Aliado a esta premissa, está o facto de cada vez mais existir um consumo padronizado de bebidas alcoólicas, mais precoce e abusivo, e que maioritariamente é feito com o objetivo de atingir determinados estados de consciência que, de acordo com o efeito patológico da substância, proporcionam ao indivíduo uma enorme sensação de dormência e de bem-estar e de uma possível fuga à realidade, atingindo sensações de leveza, de forma a amenizar sentimentos de tristeza, frustração, e mal-estar.

Ou seja, o consumo de determinadas substâncias, como o álcool, oferece à pessoa um efeito psicoativo satisfatório e prazeroso, que faz com que os próprios mecanismos cerebrais motivem o reforço da preservação desse comportamento, como se o mesmo fosse biologicamente necessário.  

A ação do álcool atua essencialmente nas funções neuroquímicas dos sistemas GABA (ácido gama-aminobutírico), glutamato, norepinefrina, dopamina, acetilcolina, e serotonina. Esta última tem sido relevante na compreensão da regulação do comportamento violento. Desta forma, a baixa produção de serotonina está intimamente associada aos comportamentos agressivos que, por sua vez, estão ligados à utilização crónica de álcool (Monnot, Nixon, Lovallo, & Ross, 2001, cited in de Almeida, Pasa, & Scheffer, 2009).

Essencialmente, os distúrbios ligados à utilização de álcool comprometem a atenção, a memória, as funções cognitivas e viso-espaciais, e provoca também alterações comportamentais, principalmente ao nível da desinibição, do aumento da agressividade, da perda do controlo dos impulsos, e da euforia. 

Em indivíduos com condutas criminosas, bem como em indivíduos com consumos excessivos de álcool, verificam-se alterações no lobo frontal, nomeadamente, a nível da atenção, da concentração, da motivação e da avaliação das consequências das suas ações, juntamente com um aumento da impulsividade e de um maior descontrolo comportamental (Nunes, 2010)".


É portanto urgente fazer esta relação do álcool com a violênca doméstica. 

Se sentes muitas vezes um apelo ao consumo de álcool para atingires alguns dos obejctvios acima descritos, tem atenção às tuas necessidades, às tuas emoções, e pede ajuda a um profissional.

Em Amor
Com Alma Corpo e Mente

                                                                                                     Cristina Mega
                                                                                                Coach PNL/Terapeuta
                                                                                             
                                                                                    crismega.equilibriodoser@gmail.com

domingo, 1 de março de 2020

5 cadeiras, 5 escolhas


O nosso sentido de felicidade e realização passa essencialmente pelas relações que estabelecemos com os outros, momento a momento. As nossas ações e comportamentos afetam tudo o que fazemos: a maneira como vivemos, as nossas relações familiares e com os nossos parceiros/as, o nosso trabalho, o nosso estilo de liderança. Qual é o impacto que poderá ter, em nós e nos outros, tomarmos consciência dos nossos comportamentos?   


 



Louise Evans, coach comportamental que atua no contexto empresarial, criou um modelo (e escreveu um livro homónimo) chamado 5 cadeiras, 5 escolhas”. Este baseia-se na Comunicação Não-Violenta, de Marshall Rosenberg, e tem como ideia trazer-nos consciência, aos poucos, das nossas próprias reações/atitudes e, a partir daí, produzir uma mudança de comportamento.
Em contexto de empresa, esta abordagem permite ajudar os membros a modelar os seus comportamentos, sejam os líderes ou os colaboradores. No entanto, a reflexão é válida para qualquer esfera das nossas vidas.

O conceito

Existem 5 cadeiras, cada uma de uma cor e com um animal associado. Por sua vez, pela sua natureza, este animal simboliza um determinado comportamento.
Ao refletirmos sobre situações que ocorram, podemos identificar a cadeira que melhor representa a reação que tivemos ou costumamos ter. Assim, tomamos noção dos nossos comportamentos e, a partir daí, temos a possibilidade de trocar de lugar e modelar o nosso comportamento.
Trocar de lugar é um ato de coragem, mas também é a grande oportunidade de evoluirmos. Aprendemos a controlar os nossos impulsos, a ser donos das nossas ações e comportamentos e, finalmente, a crescer e ter melhores relações com os outros (e connosco mesmos, claro).

Cadeira vermelha – o chacal


O chacal é um animal inteligente e oportunista, que aguarda o momento para atacar. Esta cadeira está, portanto, associada ao ataque, ao impulso.
Aqui temos pouca tolerância e uma forte tendência para julgar, criticar, descriminar, culpar. Ou seja, o mote é: “eu estou certo, tu estás errado”. É uma cadeira onde muitos de nós se senta com frequência.
E qual é o resultado? Há mais conflitos, há maior propensão a atritos e agressões. Em ambiente de trabalho, traduz-se num desempenho menor por parte dos colaboradores, que estão insatisfeitos, e maior tensão entre os departamentos, que tendem a discutir entre si (afinal, a culpa é sempre dos outros, não nossa).

Cadeira amarela – o ouriço


O ouriço, com medo, enrola-se sobre si mesmo para se proteger. Achamos que não somos capazes, que não acreditam em nós e que não somos amados. Além disso, temos medo da rejeição, medo de falhar.
Ao passo que na primeira cadeira direcionamos o julgamento para os outros, nesta cadeira direcionamo-lo para nós próprios.  

Cadeira verde – a suricata


As suricatas, como sabemos, são as sentinelas de serviço. Observam de forma diligente e atenta. Temos interesse em perceber o que nos rodeia. Aguardamos, perscrutamos. Enquanto isso, questionamo-nos sobre o que estamos a pensar. Por exemplo, se estivermos perante alguém zangado, interessamo-nos por saber o motivo, em vez de partirmos para o julgamento.
Outra coisa muito importante é que aqui existe uma escolha: “vou por aqui ou por ali?”. Se tudo correr bem, seguimos o caminho certo e seremos felizes.

Cadeira azul – o golfinho


O golfinho é dos animais mais inteligentes que conhecemos e também dos mais sociais. Têm uma forte capacidade de comunicar e interagir com o outro, numa atitude alegre e de brincadeira. Em bom português: tem «jogo de cintura».
Nesta cadeira, cuja atitude é a de detective, analisamos-nos à lupa e temos consciência de nós e do outro, criamos os nossos limites (que preservamos de forma assertiva, mas empática) e sabemos para onde vamos. Por isso, é uma cadeira onde não abrimos mão do nosso poder.

Cadeira roxa – a girafa


Esta é “A cadeira”. A que convida à ligação aos outros, ao espírito comunitário, à tolerância e à segurança do todo.

A girafa, para além de ter o maior pescoço entre todos os animais terrestres, tem também o maior coração. Portanto, a girafa tem um campo de visão enorme, ao mesmo tempo que é um animal empático.
Em termos de atitude, traduz-se numa postura de compreensão, de ouvir o outro, de colocar o ego de parte em prol do bem-estar do grupo.

Conclusão

Como é que o modelo das 5 cadeiras se aplica à vida diária?
As nossas atitudes e comportamentos criam a atmosfera de nossos locais de trabalho, o ambiente em nossa casa e a cultura da nossa sociedade em geral. Especialmente quando as coisas não nos correm pelo melhor, nós revelamos o nosso carácter através das nossas reacções.
Portanto, o nosso grande desafio é entender como encontrar o equilíbrio entre sentar numa cadeira ou noutra. Talvez quando nos sentamos na cadeira vermelha a vida se torne mais difícil, ao passo que quando nos sentamos na cadeira roxa sabemos quem somos, e temos mais compaixão pelos outros, o que se traduz numa interacção mais harmoniosa e uma vida mais feliz. E claro, maior sucesso.


Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente

                           
                                                                                                 Marta Peral Ribeiro
martaperalribeiro@gmail.com