segunda-feira, 11 de maio de 2020

O lado social da refeição

Não é novidade, para quem nos segue no Alma, a importância que damos à alimentação e de como vemos o ato de alimentar como uma demonstração de amor. Nesse sentido, hoje debruçamo-nos sobre este tópico de uma perspetiva mais abrangente: a refeição como ato social e a sua importância nos primeiros anos de vida do indivíduo.

imagem: Aldi



A hora da refeição é dos aspetos mais importantes que temos na nossa vida, seja no contexto familiar seja com amigos ou colegas. Comer em família, mesmo em tempos de pandemia, é a oportunidade de podermos parar e conversar uns com os outros, partilhando o alimento físico e emocional.
Imagem: Bigstock

Ainda em bebé, quando a mãe está sozinha a amamentar o bebé, este um momento em que mãe e filho se olham nos olhos, aumentando assim o sentimento de segurança e confiança. Isso é algo que marca para sempre o indivíduo.

Quando a criança pequena já participa nas refeições à mesa, pode observar os adultos e por imitação, aprende a usar os talheres e o copo, a estar à mesa, a apreciar a comida, enquanto ouve os outros e espera para se levantar. Tudo reflete a ambiência social. 


É fácil, pois, entender o impacto que esta experiência diária terá na relação que a criança vai ter com a comida a longo prazo. 

O que as crianças vivenciam à refeição vai projetar a postura e opções que vão adotar quando forem adultos. Mas criar este momento, a refeição em família, e torná-lo um ato de amor, requer prática e doses de paciência.

Por exemplo, enquanto a criança observa os adultos sentados a servirem-se uns aos outros, a interagirem entre si, a mastigar, ela aprende o que é o respeito e como se comportar à mesa. Além disso, quando o ambiente é tranquilo, a relação com a comida mais tarde será também harmoniosa. 

                                         imagem: Fowls Comics


Por outro lado, se uma criança em casa é obrigada a comer «à força» ou se tem de comer a correr, pode mais tarde desenvolver distúrbios alimentares. 

Mas atenção: uma coisa é forçar a criança a comer mais do que ela consegue.

Outra bem diferente é admitir que todos os dias a criança deixe um restinho porque «já está cheia».
imagem: Fowls Comics


Ou seja, permitir que deixar comida se torne uma prática diária. Isso é desperdício e é desvalorizar os alimentos e tudo o que envolve a comida chegar ao prato.



É-me difícil aceitar que crianças comam em momentos desfasados dos adultos quando é possível estarem juntos. Sei que provavelmente tudo na mesa vai transbordar, que há o escândalo por causa dos legumes que diz que não gosta, que podem demorar uma eternidade para terminar a refeição, etc. 

Ainda assim, se considerarmos o impacto que as refeições em família terão mais tarde, constatamos que o esforço vale a pena.


A minha posição firme neste aspeto talvez se deva, justamente, a ter tido a experiência pessoal, perto da adolescência, de uma total anarquia em casa no que às refeições dizia respeito. Cada uma comia quando e onde entendia, mesmo havendo a possibilidade de comermos as três à mesa ao mesmo tempo.

Pura e simplesmente porque o adulto presente cedia à teimosia anárquica das adolescentes e, exausto do trabalho, não se empenhava em manter o momento social que era a refeição.

A refeição é talvez o único momento do dia em que se proporciona um diálogo entre os membros da família, em que existe a oportunidade de saberem uns dos outros e detetar se alguém está mal através do olhar.

Talvez estes tempos em casa sejam a altura ideal para fortalecer esta experiência familiar/social, que requer saber coisas para alguns simples e óbvias, para outros não tanto: desde fazer as compras, cozinhar e levar a refeição a bom porto.

Aproveite cada passo do processo para instituir hábitos saudáveis, tanto do ponto de vista alimentar como social e educacional. Acima de tudo, envolva os elementos da família.

Mindfulness no momento de ir às compras
Opte pelo mercado ou mercearia locais, onde os sentidos ficam mais despertos: escolhemos alimentos frescos e coloridos, interagimos com os vendedores do costume, com quem mais cedo ou mais tarde criamos laços. Ah, não se esqueça: leve os sacos de panos ou um cesto em vez de comprar sacos de plástico.

Imagem: @NeONBRAND

Consumo como educação e ética
O que compramos e onde compramos transmite ética. Ao escolhermos o que consumimos e onde compramos estamos a dar o nosso dinheiro a determinada entidade em detrimento de outra.
Comprar local ajuda a regenerar a sua comunidade.
Comprar a pequenos produtores geralmente significa mais qualidade e pagar um preço justo aos trabalhadores.
Em que é que isto tem a ver com educação? A ética é dos valores mais preciosos que pode transmitir aos seus filhos.

Participação das crianças

imagem:TIJANAM - SHUTTERSTOCK


Conte com os mais pequenos na hora de planear as refeições, escrever a lista de compras (se for com desenhos é ainda mais giro), preparar os alimentos, cortar os vegetais e a fruta, pôr a mesa... tudo são tarefas que podem ser divertidas e pedagógicas.


Autonomia
Adicionar legenda

Permita que a criança se sirva. Mesmo que requeiram alguma ajuda, reforce a autonomia dos mais pequenos.

Quando já não é um bebé, dê-lhe sempre faca e garfo, mesmo que ainda só saiba usar o garfo (apropriados à idade, como é evidente).

À mesa fala-se, sim!
Desliguem os ecrãs e conversem. Pergunte aos seus filhos pelos amigos, por um momento interessante que tiveram nesse dia. 
Converse também com o seu companheiro/a, sobre assuntos leves, com contacto visual. 

Imagem: Bill-Garland



Agradecer a refeição 
Quando expressamos conscientemente palavras e sentimentos positivos perante a refeição partilhada, a relação com a comida será também mais saudável. 


Os hábitos de amanhã serão, sem dúvida, reflexo da educação de hoje.


Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente


Marta Ribeiro
martaperalribeiro@gmail.com