Muito se tem falado nestes últimos dias sobre o número de mulheres que morreram vítimas de violência doméstica.
É triste e lamentável que o nosso país tenha tão enraizada na mentalidade das maioria das pessoas tantas crenças machistas que propiciam esta violência.
Pode agora estar o leitor(a) a pensar, mas também existe violência sobre os homens e em pares homosexuais. Sim é verdade, mas hoje vou falar apenas da violência sobre as mulheres. E porquê?
Porque ontem fui testemunha auditiva de violência doméstica na andar por cima da minha casa.
Dois dias a seguir ao dia dos namorados, eram apenas cerca das 8:30 da manhã quando me arranjava para ir trabalhar comecei a ouvir a voz masculina mais alterada num tom, que não sendo a gritar, senti como ameaçador. Ouvi passos a correr para o quarto por cima do meu e a porta a fechar,
Passados alguns minutos a porta abriu, a voz dele novamente e coisas a cairem.
Fiquei em pânico percebi que estava a acontecer algo agressivo entre o casal. Comecei a andar pela minha casa sem saber o que fazer, com mil emoções ao mesmo tempo. Pensava:
Vou lá e toco à campainha...
Chamo já a policia? E se é apenas uma discussão sem agressão?
Meus Deus, o que posso fazer?
Nisto os barulhos aumentaram e ouço de repente um estrondo de algo a partir-se violentamente, vidros, na zona da sala. Pensei que ele tinha partido a janela...sei lá.
Nesse momento abri a porta e subi as escadas, cheguei à porta deles e nada se ouvia, o medo tomou conta de mim naquele momento. Medo que ele abrisse a porta em furia. Desci as escadas vim para casa. Agarrei na mala para sair e chamar a policia. Eis que ele sai e desce as escadas, vi porque espreitei pele óculo da porta a tremer nervosa, a viver aquela violência como se fosse comigo, na minha casa. Decidi subir para ver se ela precisava de ajuda. Toquei à campainha, ela abre a porta como os olhos cheios de lágrimas pá e vassoura nas mãos, e a sorrir diz-me que está tudo bem, que não precisa de nada. Insisto para me procurar se precisar, recusa a sorrir, embaraçada, envergonhada.
Afasto-me ainda a olhar para ele quando vejo que tem a mão enrolada num pano da loiça com sangue. Dirijo-me a ele e pergunto se precisa de ajuda estando ferido...responde que já tinha chamado os bombeiros. Digo-lhe: É preciso ter calma, é preciso calma. Entretanto, chegam os bombeiros e vou-me embora para o carro a tremer.
Como fui capaz de oferecer ajuda a um homem agressor/agressivo? Estava tão confusa e desorientada com tantas emoções diversas, o medo, a revolta, a compaixão de ver apenas um ser ferido, e não aquele homem.
Lembrei-me dela novamente. Ele poderia voltar para casa e eu já não estaria lá. Liguei para a policia. Relatei tudo o que ouvi e pedi que fossem lá a casa da minha vizinha ver se ela estava mesmo bem, para que ele não voltasse tão cedo. Pediram-me o nome e onde morava, identifiquei-me porque na minha cabeça o pensamento MAIOR era:
NÃO PODES SER CUMPLICE. PRECISAS DENUNCIAR.
Fui trabalhar sem tomar o pequeno almoço muito destabilizada emocionalmente com N questões na minha mente.
"Não se mete a colher entre marido e mulher". Esta frase que está tão enraizada nas crenças e na mentalidade dos portugueses é, para mim, a grande responsável pelo crescendo da violência doméstica em Portugal.
Eu senti esta frase a bloquear as minhas reações naqueles momentos. Isto é horrível. Como não nos metermos entre dois seres quando há violência? Se for na rua é vergonhoso não separar as pessoas, mas se for entre paredes já é permitido?
Precisamos mudar este estado de mentalidade, agindo cada um de nós, passo a passo.
Denunciar para não ser Cumplice.
Em Amor
Com Alma Corpo e Mente Cristina Méga
Com Alma Corpo e Mente Cristina Méga
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