quinta-feira, 30 de abril de 2020

A Culpa

Posso sentir-me culpada/o quando tenho a impressão de ter retirado um direito a alguém ou em situações nas quais sinto que perco o auto-controlo.

Num encontro muito bonito de mulheres, uma das participantes partilhou a sua sensação de culpa, por se ter separado do ex-marido pois sentia que essa decisão se estava a refletir na instabilidade emocional do filho. 

A razão da separação fez-me pensar no meu próprio divórcio: já não se amavam, eram apenas amigos. Tal como também me aconteceu, a decisão dela foi estranha para todos os contactos próximos que não o esperavam e ficaram surpreendidos.

A questão da culpa, especificamente, era reforçada pelo comportamento da mãe desta mulher que opinava negativamente sobre a decisão do divórcio. 

Mas a quem seria que ela sentia que estava a retirar um direito? (Sentindo-se culpada por isso).
Ao seu filho, possivelmente. O direito a estar estável, a ser "mais feliz". (Na sua percepção).

Mas, pergunto eu, quem seriam ela e o pai da criança a viver lado a lado sem que fosse essa a sua vontade? Que exemplo estariam a dar ao seu filho para ele construir os seus próprios relacionamentos amorosos no futuro?

Imagem em www.tardecommaria.com.br

Penso na dureza e exigência que ainda nos colocamos sobre os ombros em situações como esta (e noutras também). Em como, mesmo sendo mulheres adultas, nos continuamos a sentir julgadas pelas nossas mães ou a querer corresponder aos modelos dos nossos pais nas nossas decisões pessoais.


A nossa mãe e o nosso pai são apenas dois adultos como nós. Travam as mesmas lutas internas que nós travamos e vivem ou viveram desafios parecidos aos nossos com os seus próprios progenitores.

Chega um momento às nossas vidas em que necessitamos ativar e conectar com os nossos pai e mãe internos, masculino e feminino adultos que vivem em união sagrada dentro de nós. É este casal que agora nos suporta e ampara nas nossas decisões e no nosso caminho, validando-nos. Eles representam nosso lado adulto.

Descobrir mãe e pai internos implica um corte do cordão umbilical com os nossos pais biológicos, já não os responsabilizando de nada. Simplesmente, aceitando-os como são: adultos imperfeitos, como nós, a fazer o seu melhor em cada dia.

Descobrir mãe e pai internos é assumir a responsabilidade pelos nossos sentimentos e emoções e cuidarmo-nos nesse sentir. Com gentileza, dar a esse adulto que sente culpa um espaço para se expressar, acolhendo-o sem julgamento.

Se não sentimos essa disponibilidade da parte dos nossos pais então podemos nós criar esse espaço e lugar de conforto. 

Como?

Começando por nos permitir sentir essa culpa (ou outra sensação que se manifeste) dando-lhe espaço e autorização para se mostrar. Olhar a sensação de frente, mas não em desafio, simplesmente em compaixão e amor.

Em seguida podemos dizer-nos: - És humana/o, feita/o de imperfeições e também com imensas qualidades. Aceitar e expressar a culpa é um corajoso movimento de vulnerabilidade.

E se sentes culpa (especificamente nesse caso) pergunta-te:
- A quem sinto que estou a retirar um direito?
- Que direito é esse?
(Ou eventualmente, com quem sinto que perdi o controlo ou fui reativo?)

Depois dessa reflexão, procura sentir quais são as crenças pessoais que estão por detrás das respostas. No exemplo da mãe que se separou do pai do seu filho pode estar a crença:
- Sou péssima mãe porque me separei a pensar no meu bem-estar e isso provocou instabilidade no meu filho.
ou
- Desiludi a minha mãe / família / amigos.

Agora, suavemente, conecta com as crenças que surgiram e procura ressignificá-las de uma forma construtiva.

Pode surgir algo como:
- Ao tomar consciência da falta de amor na minha relação, decidi separar-me e isso trouxe-me paz interior e equilibrio. Foi uma decisão que respeitou o meu bem-estar e amor-próprio. Quero que o meu filho sinta que pode decidir como eu quando estiver numa relação que já não o satisfaz, nem o faz feliz. Sinto que através das minhas decisões sou um bom exemplo de honestidade e amor para ele.

- Sinto ainda que posso representar força emocional para a minha mãe, pois pude tomar uma decisão complicada colocando-me em primeiro lugar, estou a tornar-me uma mulher mais forte e ao mesmo tempo estou a aceitar a minha imperfeição e vulnerabilidade na forma como vivo.

- Posso ser uma influência positiva para os meus amigos que já não se sentem felizes nos seus relacionamentos, criando novos modelos de vida onde também posso viver em plenitude (independentemente de ter ou não um/a companheiro/a).

Não permitas que a culpa se manifeste em ti, sem olhares para ela e sem a acolheres.
Podes aprender mais sobre ti se escutares essa sensação e podes também assumir a responsabilidade de te cuidares emocionalmente, escutando-te sem julgamento e ressignificando crenças que limitam a expressão verdadeira do teu ser.

Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente.

Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com

sábado, 11 de abril de 2020

Despir o corpo é fácil... Já alguma vez despiste a Alma?

A Alma é aquele lugar que está para lá da pele.

Não se vê com os olhos, não se cheira nem se lambe. A alma vai para além dos sentidos que vivem à superfície.

Habita-nos, mas não a mostramos. 

Guarda os nossos segredos, enaltece as nossas fragilidades, contém a nossa essência e liberta-nos do corpo e do ego.

Desvestir a alma é considerado um ato heróico. Já alguma vez te mostraste desde esse lugar etéreo, puro, sublime? Não te sintas mal se a tua reposta for não… Acredito que navegamos juntos/as nesse barco.

Possivelmente nem sequer nos permitimos a nós próprios/as transcender o corpo e mergulhar fundo para alcançar essa conexão profunda e essencial com o nosso Ser Divino.

Resistimos a dar esse salto para o que pensamos ser um vazio, o desconhecido.

Quando somos paridos/as neste mundo, a nossa alma chega sem roupa, sem proteção, vindo ainda conectada com o universo infinito.  
Assim que chegamos começamos a viver a angústia da separação, da desconexão e a sentirmo-nos sozinhos e desamparados se não somos acolhidos nos braços e na pele da nossa mãe.

À medida que crescemos, a nossa alma, essência ou espontaneidade (como lhe queiras chamar) vai ganhando novas peles e novas roupas. Condicionamentos. Modelos. Vamos vestindo-a até com aquilo que não lhe pertence, que não lhe serve e que não respeita o seu tamanho.

A alma, ao longo do tempo, começa a vestir-se de vergonha, tristeza, falta de auto-estima, necessidade de perfeição, … E não damos conta de que estamos a esconder quem realmente somos, para nos adaptarmos a um mundo que insiste em nos condicionar nos seus modelos e padrões.

Recuperar a conexão com a nossa alma é um exercício de beleza imensa, que pode ser feito em verdade e sem filtros por todas as pessoas. Despir a alma implica ter a ousadia de derreter algumas couraças que fomos criando no nosso corpo emocional e a coragem de nos voltarmos a ver sem roupas, sem corpo, nem ego…

Implica conectarmos com as nossas feridas, escondidas atrás de grossas camadas, para depois as tocarmos e acariciarmos com amor e aceitação. Despir a alma é um exercício de valentia, sim. De coragem e empoderamento.

Experimenta sentar-te em posição de meditação frente a um espelho. Reserva pelo menos 30 minutos para ti e coloca uma música que te ajude a entrar num estado meditativo, de conexão contigo, com o teu Ser mais profundo e divino. (Se quiseres segue a meditação guiada que te disponibilizamos no fim deste post).

Faz algumas respirações lentas e profundas e quando estiveres preparado/a, olha para ti no espelho, olha-te nos olhos. Conecta-te profundamente com esse ser que está à tua frente e que está prestes a mostrar-te o reflexo da tua alma.

Quando te sentires totalmente conectado/a contigo, começa a desvestir a tua alma… Devagar e no teu tempo, despe um acessório ou peça de roupa que tenhas vestido e diz para ti mesmo/a em voz alta o que realmente estás a despir:

- Eu dispo a vergonha que sinto. (por exemplo)

Mantém sempre a conexão contigo, em amor e vulnerabilidade e continua a retirar cada peça de roupa à medida que te vais dizendo aquilo que estás a despir:

- Eu dispo o perfeccionismo… Eu dispo a sensação de inferioridade… Eu dispo o achar-me feio/a… Eu dispo a vitimização…

Despe tudo, tudo aquilo que está a esconder a tua essência, tudo aquilo que te impede de conectar diretamente com a tua alma. E mesmo quando já te encontrares nu/a frente a ti podes continuar a dizer o que queres despir até que sintas que já soltaste cada capa, cada condicionamento…

todos os direitos reservados

Sempre em conexão com o teu eu essencial, com todo o respeito e cuidado por ti mesmo/a começa agora a conectar com o teu corpo, sem capas, sem filtros e reconhece a beleza que existe nesse ser despido de preconceitos… sem capas ou filtros. Conecta com a tua alma e experimenta abraçar-te, tocar a tua pele em auto-cuidado, olhando cada cicatriz, cada imperfeição, acolhendo-te e perdoando-te por cada uma das vezes que foste quem sentias que não eras e te foste infiel comportando-te de maneiras que não querias.

Acolhe-te, abraça-te, celebra-te… Ama-te tal como és, sem te esconderes de ti próprio/a. Aceita-te. Mergulha no teu Ser mais puro, naquele lugar que sabes que faz parte de algo maior e entrega cada pedacinho de couraça ao universo para que seja transformado em amor e liberdade. 

Olha para ti no espelho, profundamente. Atravessa a tua pele, carne, ossos, atravessa o espelho, e funde-te em puro amor com o teu Ser essencial. Respira profundamente, fecha os olhos, sente o teu corpo e a tua alma a expandirem-se para além dos condicionamentos e das limitações que te impediram de ser quem és. Respira.

Respira e permite-te ficar nesse estado durante o tempo que precisares e sentires.

Quando regressares a ti, no teu ritmo e no teu tempo, começa a vestir-te com as novas roupas da tua Alma. 

À medida que voltas a vestir-te podes dizer:

- Eu visto amor-próprio.

- Eu visto confiança em mim mesmo/a.

- Eu visto alegria. Eu visto leveza. Eu visto liberdade para ser quem sou. Eu visto verdade nas minhas relações...

Veste tudo aquilo que a tua Alma te pedir e diz-te a ti mesmo/a o que estás a vestir. Veste cada roupa e acessório com gentileza e amor. Toma o teu tempo e respira profundamente, acolhendo o teu Ser. 

Para terminar o exercício podes sorrir, para ti, em frente ao espelho, podes levantar-te e mover o teu corpo, dançar numa celebração que acolhe o teu Ser Divino e Essencial. Estás agora mais em verdade contigo! Sê bem-vindo/a a uma relação mais honesta com a tua Alma!


Se preferires podes fazer esta meditação de forma guiada, escutando o audio que te disponibilizamos aqui:





Em Amor,
com Alma, Corpo e Mente!

Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Detox de Primavera e o que Perséfona tem para nos ensinar

Na mitologia grega é na primavera que Perséfona (Proserpina, na mitologia romana) deixa Hades (deus do mundo subterrâneo) e reencontra a mãe, Deméter (deusa dos Cereais), que pela alegria do reencontro renova a terra com fertilidade. Perséfona é a deusa que simboliza a primavera nas estações da vida de uma mulher. É a mulher jovem, fértil.


“Completei mais uma primavera.” Isto é o que costumamos dizer quando comemoramos o nosso aniversário. Justamente porque a Primavera está associada ciclos de renovação, ao vigor da juventude, ao crescimento e ao desenvolvimento.

Num plano físico, se pensarmos bem, algo semelhante ao que se passou com Perséfona acontece connosco. Relembrando: Perséfona, foi raptada por Hades e quando o deixou (na Primavera) reencontrou a mãe, Deméter, que ao rever a filha abençoa a terra com fertilidade. Também nós, ao longo do Inverno, a estação mais obscura e fria, consumimos alimentos mais calóricos e em quantidades maiores, acumulando toxinas. Esse desequilíbrio apela-nos à desintoxicação, à recuperação de vitalidade. Em última análise, que nos reencontremos connosco mesmas.

Primavera, energia Yang, Fígado
 Imagem de Codex Anatomicus

“Tens maus fígados!”

Quem não conhece esta expressão popular, que traduz a irritabilidade ou raiva de alguém?
E tem razão de ser. Este é o órgão que purifica o sangue, metaboliza as hormonas, elimina as toxinas, separa o trigo do joio, e afeta quase todos os outros órgãos. 

Se este órgão está em desequilíbrio, pode causar problemas em qualquer parte do corpo e revelar diversos sintomas, tais como:
  • a nível físico: desequilíbrio hormonal, má digestão, tensão muscular, inchaço ou inflamação nas articulações e erupções cutâneas. 
  • a nível mental: maior propensão para a frustração e irritabilidade. Podemos ter menos lucidez, menos capacidade para decidir e separar o que importa ou não.
Na Medicina Tradicional Chinesa, a Primavera está justamente associada ao fígado e também a um aumento da energia yang. Complementar à energia yin (associada à serenidade, ao frio, à racionalidade), a energia yang está associada à ação, ao calor, ao impulso. Não admira, pois, que o sistema energético do fígado seja responsável pela regulação da atividade sexual. 

Faz a experiência: observa-te a ti mesma e a quem te rodeia e verás que, por esta altura, a maioria de nós sente um borbulhar incontrolável a crescer dentro de nós. Podemos experimentar uma vontade enorme de nos exprimir, de criar (pintar, desenhar, cozinhar, escrever, aprender coisas novas), limpar a casa em profundidade, de fechar ciclos ou iniciar novos hábitos. E também há uma tendência para nos apaixonarmos. 

Novamente, a presença de Perséfona, símbolo de juventude, de possibilidades, de mudança.


Corpo e Mente

É importante lembrar que o corpo e a mente estão diretamente ligados, portanto o que vivemos no exterior afeta o interior. 

Num plano mais físico, quando guardamos ressentimentos ou frustrações, não estamos a ajudar o nosso fígado. O fígado é um órgão particularmente permeável à emoção, o que faz com que a raiva intensa ou crónica possa danificá-lo seriamente. Também a vesícula biliar é importante neste período. 

O melhor que temos a fazer – especialmente nesta fase em que convém ficar em casa – é cuidar da nossa saúde (física e mental) e prevenir as doenças. Sobretudo quem já tenha propensão a excesso de energia yang, convém estar atento. 

Quando as coisas não te saírem como gostarias, respira fundo e lembra-te que tudo passa. Procura soluções alternativas e não permitas que a ira te inflame por dentro. 

Por outro lado, não nos esqueçamos de quem tem deficiência de energia yang. Nestes casos, há tendência para a indecisão, para a timidez e uma maior suscetibilidade relativamente aos outros. Assim era Perséfona: uma deusa vulnerável, de natureza introvertida.


Alimentação

Os sabores ácidos tonificam o fígado e a vesícula biliar.

@dosejuice2
@dosejuice2




Por isso, nesta altura opta pelos seguintes alimentos:

  • Verduras – brócolos, espinafres, agriões, acelgas, rúcula, nabiças, aipo, curgete, couve. 
  • Frutas – maçã, laranja, toranja, morango, ameixa
  • Leguminosas – feijão, lentilhas, ervilhas, favas
  • Ervas – salsa, manjericão, cebolinho, alecrim, dente de leão (não recomendado durante a gravidez)
  • Raizes – curcuma, gengibre
  • Germinados – rebentos de alfafa
  • Cereais integrais – arroz integral, millet (milho painço), centeio, aveia

Todavia, para aqueles casos em que a energia yang se apresenta insuficiente, o que pode traduzir-se em hesitação na tomada de decisões (e consequente frustração), vale a pena compensar com alimentos ou ervas que tenham de sabor picante, que vai potenciar a tomada de ação.




A evitar 

  • Óleo hidrogenado e outras gorduras de má qualidade. Estas dificultam a digestão. 
  • Açúcar. 
  • Álcool e outras drogas (açúcar quase ficou nesta categoria…) 
  • Refeições «pesadas»

Sugestões

@brookelark



Quando acordares bebe um copo de água com algumas gotas de limão, ainda em jejum.


Ao pequeno-almoço prepara uma papa de aveia com frutos secos.

Sumo: espreme meio limão (ou lima) para um copo com água, acrescenta algumas folhas de hortelã fresca e algumas rodelas de gengibre.

Legumes: coze-os a vapor e usa essa água para cozer o arroz/cereal.

Tempero: azeite virgem, limão, salsa, cebolinho; usa vinagre balsâmico.

Adiciona raiz de curcuma e gengibre aos teus pratos e bebidas (por exemplo, leite dourado).


Faz smoothies com espinafres, maçã e gengibre.

Para o lanche prepara uma boa granola – aveia levemente tostada com frutos secos (passas, amêndoas, tâmaras, etc), canela, um fio de mel ou geleia de arroz, e fruta fresca.



@caproche




Finalmente, sugiro-te que aproveites para espreitar as dicas que partilhámos no artigo que publicámos o ano passado, também por esta altura, com sugestões de limpeza da casa


Jean Shinoda Bolen, autora do livro “As Deusas em cada Mulher”, convida-nos a invocar as deusas quando precisarmos da sua energia ou inspiração, tentando conscientemente sentir a sua presença. Por exemplo: “Perséfona, ajuda-me a manter-me aberta e recetiva”.

Estamos de quarentena (a maioria de nós), por isso decide-te a aproveitá-la ao máximo. Ativa a tua Perséfona, mantém a lucidez (lucidez=com luz) e vive a Primavera no seu esplendor! E já agora, conta-nos as tuas estratégias para uma quarentena mais saudável😊

Em Amor…
Com Alma, Corpo e Mente



Marta Peral Ribeiro
martaperalribeiro@gmail.com