domingo, 16 de fevereiro de 2020

MINDFULNESS, no dia a dia

Pára um momento.
Nota como está o teu corpo, sentes algum desconforto em alguma parte dele?
Sentes-te calmo/a, ansioso/a?
E a temperatura neste exato momento?
Que pensamento estavas a ter antes de começar a ler este post?
E o teu estado emocional? Como está o ritmo da tua respiração? Acelerado, calmo…?
Mindfulness (atenção plena) é isto, é estares totalmente consciente do momento presente.
Quando estás no momento presente, qualquer juízo de valor entra por uma porta mas sai em seguida.

Estares consciente de coisas simples como o som dos carros e da movimentação fora de tua casa, dos sons que provêm de outras casas, da água que escorre quando lavas a louça, da maçã que descascas pela manhã, do aroma do café e da sua temperatura ao escorrer pela tua garganta…de um quadrado de chocolate a desfazer-se na tua boca…
Mindfulness, bem, há “N” livros aos quais podes recorrer e que falam sobre o tema e por isso, o que pretendo neste post é inspirar-te a cultivar práticas simples que poderás integrar no quotidiano. Vamos a isto?
Algumas dicas antes de começares:

     - Insiste (sê regular);
- Atitude Positiva e compassiva em relação a ti;
- Pratica o não julgamento (se te esqueceres de fazer ou achares difícil, recomeça no dia seguinte);

Experimenta durante 5 dias:
Dia 1 -    BOM DIA!
Levanta-te mais cedo e toma um duche permitindo-te sentir a água no teu corpo, a temperatura, a intensidade…). Quando terminares sente o contacto da toalha na tua pele. Veste-te e sorri com energia para o que tens a fazer hoje.
Dia 2 – CAMINHAR MINDFUL
Escolhe um pequeno trajeto, caminha num passo regular e respira regularmente ao ritmo dos teus passos. Nota o contacto dos teus pés com o chão, o peso do teu corpo e levanta a cabeça quando caminhas.
Dia 3 – CALMIA
Cria um espaço calmo. Bem sei que as nossas casas, por vezes, são uma agitação pegada mas encontra um espaço sagrado para ti: quarto, WC…whatever. Reúne: cadeira, ou almofada grande, cama ou tapete de yoga + 1 cobertor + 1 cronómetro + velas e avisa os teus companheiros de casa de que durante um tempo não queres ser perturbado/a.
Dia 4 – VIAGEM PARA TRABALHO
Desliga todos os gadgets (telemóvel, rádio…). Se fores de carro observa os sons externos, as luzes dos semáforos, as formas na estrada, os transeuntes.
Se fores de transporte público nota o semblante das outras pessoas, nota a paisagem lá fora, as cores. Sente os odores. Também podes simplesmente fechar os olhos e concentrar-te na respiração.
Dia 5 – FILA SEM FIM
Enquanto estás na fila (supermercado, serviços, trânsito…)nota que sentimentos estão a aflorar em ti (raiva, tédio, frustração..). O que se passa no teu corpo?
Agora, respira, sente o chão debaixo dos pés. Respira novamente mais fundo.Endireita-te e descontrai o corpo. Continua a respirar conscientemente, deixa passar o tempo e sente o teu corpo a ocupar o seu espaço. 

Agora, podes avançar!

Algumas dicas de livros que  me acompanham e te sugiro:
Mindfulness, o diário, de Corinne Sweet
Heartfulness, de Mikaela öven
Aqui e Agora, de Vasco Gaspar.
Agora é só começares!

Teresa Peral
teresaperalribeiro@gmail.com

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Os 9 anos ou a Fase do Rubicão



 A fase dos 8-11 anos é um dos momentos mais decisivos da vida humana. Surge na criança o medo da morte, de se separar de quem mais ama, as dificuldades de adormecer, as crises de solidão e a mudança de comportamento e até de olhar. É uma fase de incubação da adolescência que há-de vir. Bem-vindos à fase do Rubicão.

 

Por quê “Rubicão”?

Para assumir o Império Romano, Júlio César começou por tomar uma decisão difícil e arriscada: atravessar o rio Rubicão, cuja travessia era difícil e sem possibilidade de retorno. Na Roma Antiga, era proibido entrar na cidade-estado de Pompeia através daquele rio. Ao fazê-lo, Júlio César gerou uma guerra civil que acabou por vencer, tornando-se assim imperador. 

Como é que esta história se relaciona com a fase dos 9 anos das crianças? 

Muitos de nós já ouvimos falar de casos de crianças que por volta dos 8-11 anos começam a ter medo da morte: que a mãe morra, ou que o pai morra, que o cão morra… Inclusivamente à noite têm dificuldade em adormecer, querem o colo e os abraços da mãe e que ela fique ao lado até conseguirem entregar-se ao sono. Quem sabe, ainda se lembra de isso lhe ter acontecido a si?
A fase do Rubicão é das mais importantes das nossas vidas: é quando a criança compreende que nem tudo é como ela pensava e se apercebe que já não é propriamente criança (e não vai voltar a ser). Que o Pai Natal afinal não existe, que a mãe e o pai afinal não são perfeitos, que já não é o menino pequenino que era. Sentir que se está a perder a infância, sobretudo sem entender ao certo o que se está a passar, convenhamos, deve doer muito.
Ninguém disse que ser criança é fácil. E as crianças têm dores reais. Fisicamente, nesta fase podem experimentar dores de estômago e dores de cabeça – que geralmente resultam de pesadelos que tiveram e se manifestam desta forma no corpo físico. Por outro lado, emocionalmente podem sentir uma grande solidão.

Ninguém fala da fase do Rubicão

Muito de fala da primeira infância e da adolescência, mas ninguém nos prepara para esta fase que é como que um vislumbre da adolescência. Ninguém nos avisa previamente que aquela criança que vimos crescer e sempre foi um doce, passa de repente a reclamar de tudo, a cobrar tudo com laivos de ditador, a dramatizar tudo. E que vai adquirir um olhar melancólico e vai chorar sem motivo aparente.

Como mãe/pai, como lidar com tudo isto? 

A fase do Rubicão é aquele momento em que nos apercebemos de que criar filhos vai muito além de lhes provermos o alimento e a cama lavada. Até então pensávamos que estávamos a fazer tudo bem. É um desafio constante, esta responsabilidade de formar um novo ser humano!

Tudo isto pode gerar na família uma enorme angústia, stress e desespero. Como mãe ou pai é normal que fique desorientada/o, que se culpe, que coloque em causa o seu papel, se está a fazer algo de errado, se está a criar uma criança mimada.
 Esta é uma grande oportunidade de auto-educação para os pais, pois é uma altura em que a criança precisa ainda mais de bons exemplos – que vão formar o seu carácter. E não é nada fácil, pois a sua sensibilidade também vai captar as nossas sombras.

Leia-lhe fábulas e histórias de aventura

As histórias são uma excelente maneira de transmitirmos valores e conselhos de uma forma indirecta, isto é, sem que a criança se sinta implicada.

Especialmente antes de ir dormir, é importante a criança ouvir histórias de aventuras. Para além de ser divertido e dinâmico, existe sempre o grande momento em que o herói, tal como a criança, se depara com um grande desafio. Nesse momento de conflito, o herói tem de decidir se vai pelo caminho mais fácil, ou se vai pelo caminho mais doloroso, mas necessário ao seu desenvolvimento. 

Tipicamente, sabemos que o herói ganha coragem e opta pelo caminho mais difícil, ultrapassando-se a si mesmo e conquistando a sua evolução. (Aqui por casa estamos a ler com entusiasmo “A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia”, de Selma Lagerlöf.)

Já as fábulas transmitem uma moral, e a criança retira delas a aprendizagem que precisar dentro de si.

Contacto com a natureza 

Leve o seu filho a passear num bosque ou a ver o mar. Sem dúvida, contemplar a força e a beleza da natureza é uma fonte de energia que apazigua qualquer indivíduo e traz esperança.

Desfocar de si mesmo

Ajude a criança a sair de si mesma, em vez de mergulhar ainda mais no seu próprio interior. Evite questioná-la sobre como é que se sente ou por que é que está assim.

Atividade física

Se o seu filho revelar interesse nalguma atividade física – como é de esperar nestas idades – é uma altura propícia para o permitir. É uma oportunidade de terapia, de extravasar o que sentem interiormente.

Conversem

Mostre disponibilidade genuína para ouvir o que a criança precisa de dizer. E para falar também. Quando conversamos com as crianças, elas aprendem a lidar com as suas próprias dificuldades de uma maneira bastante especial.

Preparar para o sono

À noite, dedique-lhe tempo e muito carinho na hora de ir dormir. Umas gotinhas de óleo essencial de lavanda, diluído em óleo de amêndoas doces, também ajudam a apaziguar.
Agradeçam juntos todos as coisas boas que aconteceram naquele dia. 

Entretanto, respire fundo. Se o Rubicão marca o fim da infância, também encerra uma grande semente: é um recomeço, com novos olhares para o mundo!


Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente


Marta Ribeiro
 martaperalribeiro@gmail.com