sábado, 2 de março de 2019

Dizer "não" com a consciência tranquila

“A integridade é preferir a coragem ao conforto; preferir o que está certo ao que é divertido ou fácil; e optar por praticarmos os nossos valores em vez de simplesmente professá-los.” Brené Brown


Para a maioria de nós ainda é muito desafiante estabelecer limites pessoais, pensamos muitas vezes que se o fizermos não vão gostar de nós, vão ficar zangados ou desiludidos conosco, não seremos aceites ou não “pertencemos”. Por esta necessidade humana de conexão e de pertença achamos muitas vezes que se comunicarmos os nossos limites pessoais podemos estar a colocar em causa a relação. Por medo de não correspondemos às expectativas dos outros sobre nós, ultrapassamos os nossos limites pessoais, afastamo-nos de nós e comprometemos a nossa autoestima.

Temos a ideia que dizer "não" tem de ser uma resposta fechada, agressiva e que não revela simpatia ou vontade de cooperar. Mas, na verdade, podemos dizer "não" de forma assertiva, com muito amor por nós e pelo outro, com muita empatia e compaixão e isso só tende a beneficiar a relação, a aumentar a confiança e a conexão, por estarmos a respeitar-nos, a sermos autênticos e fiéis a nós próprios.

Photo by Isaiah Rustad on Unsplash

De onde vem então esta dificuldade em conhecer e comunicar os nossos limites pessoais com clareza e sem culpa?
Convido-vos a regressar à vossa infância: como eram tratados quando comunicavam os vossos limites?, quando diziam "não quero", "não gosto", quando não queriam fazer algo, quando não queriam vestir o casaco ou dar um beijinho a alguém que acabaram de conhecer?

Todos nascemos com uma enorme capacidade de expressar os nossos limites e dizer "não", muitas vezes na forma de birras e comportamentos desafiantes (os recursos que temos disponíveis nesta fase para nos conseguirmos expressar). Pela forma como somos educados, a forma como comunicam conosco, vamos perdendo esta competências e sabedoria inatas e sentido muitas vezes culpa, tanta que começamos a dizer "sim" quando queremos dizer não.

Como lidavam conosco quando expressavamos os nossos limites? Como lidamos hoje com as situações em que as crianças estão a comunicar os seus limites? Tendemos a julgar, a criticar, a castigar, o que não ajuda a desenvolver a capacidade da criança em colocar limites de forma clara, respeitadora e amorosa, bem pelo contrário! A criança que não se sente ouvida e respeitada nos seus limites, cresce a sentir que os seus limites não interessam e que para gostarem dela tem de abdicar dos seus limites. Por outro lado, a forma como dizemos "não" e comunicamos os nossos limites à criança é determinante para a forma como vai aprender a fazê-lo, e tão importante na fase da adolescência e toda a vida adulta! Podemos ensiná-la dizendo "nãos" autênticos e congruentes, aqueles que vêm do coração e não da necessidade de exercer poder (aquele que exerciam sobre nós e que de forma inconsciente incorporámos e replicamos).

Se refletirmos sobre estas questões, observamos como fomos "treinados", desde a infância, para agradar aos outros, mesmo indo contra as nossas necessidades, sentimentos e emoções, a ter determinado tipo de comportamento para sermos bem tratados, para recebermos amor. Fomos condicionados para ter um "bom comportamento" para nos sentirmos amados e aceites e que por medo das consequências negativas que possam advir quando expressamos os nossos limites.
Aprendemos a colocar os outros em primeiro lugar e que não os devemos desiludir e incomodar com as nossas emoções difíceis.

Sempre senti uma enorme pressão para corresponder às expectativas que tinham sobre mim, sempre procurei ser a menina bem comportada, que tinha boas notas e se esforçava muito pela constante busca de validação e aprovação. No fundo, para conseguir satisfazer as minhas necessidades de conexão e de me sentir reconhecida, vista e ouvida.

Mais conscientes de onde vem esta dificuldade e este condicionamento, podemos assumir a responsabilidade pelas nossas necessidades e limites pessoais e ajudar as crianças a fazerem o mesmo, com muito amor e compaixão. Esta é uma aprendizagem fundamental no processo de desenvolvimento da autoestima.

O mais bonito desta capacidade de respeitar os nossos limites, de dizer não com a consciência tranquila, é que quando o fazemos conosco e temos autocompaixão, fazemo-lo com os outros, está presente o igual valor e o respeito pela integridade de todos nós (independentemente da idade). Ao assumir esta responsabilidade estamos a dizer sim a nós próprios, a cuidar da nossa autoestima e a afastar sentimentos de culpa, a voz do crítico interior e do medo do julgamento e de "não pertencer".

Termino deixando-vos uma questão para reflexão: Quando dizes sim, e queres dizer não, que limites estão a ser ultrapassados? Que limite precisas de exprimir para te começares a sentir melhor?

Com Amor,
Alma, Corpo e Mente

Cristina Batalha
Coach e Facilitadora de Parentalidade Consciente
cristinabatalha@gmail.com

Sem comentários:

Enviar um comentário