segunda-feira, 9 de março de 2020

Para onde vai o amor depois de nos separarmos?

Houve momentos em que o frio da solidão me assolou mesmo antes de a separação chegar.



Da mesma forma, um arrepio de abandono percorre-me as veias quando uma porta se fecha entre mim e um novo amor que vem pintar a vida, ainda que por dias ou semanas apenas. 

Separar-me sempre me custou, vivo a distância como se me arrancassem uma parte. E quanto mais profundo tiver sido o mergulho na experiência do amor, mais amputada me sinto. 

Das grandes despedidas resultaram grandes feridas que lambi e cuidei com paciência… Mas sobretudo com tempo e amor. Das “pequenas” despedidas (se é que existiram pequenas despedidas) ficaram novos vazios que forçosa e solitariamente destapei.

Cada despedida tem sido um convite à rendição, ao deixar ir, preferencialmente em desapego e consciência (mas nem sempre)… Sinto sempre a separação como um processo de morte. Uma morte da qual fugi muitas vezes. Enfrentar a morte implica conhecer o vazio da alma, aquele lugar para o qual ainda não conseguimos levar amor-próprio ou alegria e onde nos podemos submergir, aceitando o chamado para cruzar os nossos lugares de sombra. 

foto em: www.betalotti.com.br


Quando nos predispomos a fazer algo que nos custa (com um propósito construtivo), necessariamente iremos encontrar uma forma de lidar com a dificuldade. E cresceremos. Ao cruzar o túnel escuro da dor, estamos a permitir-nos encontrar novas formas para lidar com a escuridão e com o desconforto. 

Cada desafio nos permite descobrir dentro de nós os recursos emocionais para voltar a encher com amor e alegria os vazios deixados pela separação. Aprenderemos a fazer o resgate das sensações que sentimos em falta como o sentirmo-nos acompanhados, amados, preenchidos, etc… independentemente de estarmos a viver uma relação com outra(s) pessoa(s).

Durante algum tempo, a pessoa com quem nos partilhámos terá representado o “estar em casa”, essa pessoa terá visto em nós algo que nem nós próprios reconhecíamos e ter-nos-emos sentido amados e cheios de amor para dar. Pode acontecer que esse estado comece a deixar de estar presente e que progressivamente a outra pessoa deixe de representar a casa confortável e acolhedora que gostaríamos de conservar para sempre…

É nesse momento que surge o convite à rendição, ao aceitar que a casa já não está ali ou que precisa de remodelações. Na verdade, a casa que requer trabalhos é sempre a nossa casa interna, independentemente de quem nos faz companhia no seio das suas divisões.

Quando uma separação acontece, tendemos a encontrar responsáveis, a atribuir culpas e podemos ainda vitimizar-nos durante o processo. Podemos mesmo tentar evitar a separação a todo o custo, pelo medo de nos confrontarmos com as divisões vazias, frias e escuras da nossa casa interna abandonada.

Terá então chegado o momento de cuidar. Da casa, do jardim, do coração e do sentir. Terá então chegado o momento de passar algum tempo sozinho/a nessa casa que nos esquecemos de habitar enquanto achámos que outra pessoa era o nosso lar. Começamos por limpar o pó dos móveis, acendemos a lareira e cozinhamos uma refeição saborosa acompanhada de um bom vinho.

A seguir sentamo-nos no sofá e sorrimos. Sorrimos porque há alegria e satisfação naquela casa e, agora que atravessámos o túnel escuro da dor, sabemos que a casa onde vivemos é o nosso porto e o nosso abraço. E assim será para sempre. 

Mesmo que visitemos outras casas ou vivamos por muitos meses ou anos nas casas que partilhamos com outras pessoas, sabemos que jamais devemos deixar de cuidar a casa interna. Sabemos que dentro dela guardamos cada história e cada amor, cada vivência e cada emoção e, na beleza de sermos com cada pessoa, a podemos partilhar em abundância e comunhão. E, muito provavelmente, em amor e liberdade.

Na nossa casa interna cuidada jamais existe, nem existirá solidão ou separação!
Na nossa casa interna vive o amor... ❤️


Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com

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