quarta-feira, 6 de março de 2019

Trauma e Pedagogia de Emergência

Todos nós, de alguma maneira, seja em que grau for, já sofremos um episódio traumático. Hoje vamos falar de trauma, do processo traumático, das suas consequências e de estratégias que podemos levar a cabo para as minimizar. Este artigo é dedicado sobretudo aos mais novos. 




O que é um trauma? 

A etimologia da palavra «trauma» refere-se a uma ferida: uma ferida psicológica. Portanto, independentemente da sua origem, um episódio traumático pode ter uma repercussão enorme na vida de quem o sofre. 

As consequências, quando o processo do trauma não é devida e atempadamente conduzido, podem chegar a alterar a constituição física e psíquica de um indivíduo, Ou seja, os sistemas nervoso, respiratório, metabólico, motor e rítmico podem ficar afetados. 

No caso de uma criança, quanto mais nova for, maior pode ser o impacto. Os distúrbios consequentes do episódio traumático podem, de uma forma mais «direta» interferir com o comportamento e a aprendizagem. 



Ora, como é que se processa um trauma? Normalmente, em 4 fases: 

1) Situação traumática 
2) Fase aguda do choque (1-2 dias após a situação) 
3) Reação de stress pós-trauma (até 8 semanas depois) 
4) Distúrbios provocados pelo trauma, com possíveis alterações da personalidade. 

O que podemos fazer para ajudar uma criança ou jovem, salvaguardando tanto quanto possível o seu desenvolvimento? Em primeiro lugar, há que ter em linha de conta a idade da criança, adaptando as estratégias à sua maturidade emocional e física. 

Existe um conceito muito interessante, criado por Bernd Ruf, chamado Pedagogia de Emergência. Trata-se de uma intervenção de emergência cujo propósito é, por um lado, potenciar estratégias pedagógicas e, por outro, estimular a capacidade de auto-cura da própria criança ou jovem para colmatar o trauma e evitar distúrbios subsequentes. 

A Pedagogia de Emergência sugere então alguns métodos que podemos aplicar no período pós-trauma (isto é, nos dias e semanas seguintes), tais como: 

    1) permitir que a criança sinta o que tiver a sentir e experiencie as suas emoções. 

Suprimir e negar o que se sente são mecanismos de defesa que podem levar a fobias e compulsões, ou até distúrbios depressivos. Quanto maior a capacidade da criança de processar as emoções, melhor será a recuperação do trauma... É fundamental que o adulto lhe dê liberdade para o fazer, que a ouça, se interesse e a apoie. Mas não a devemos pressionar. 


    2) proporcionar à criança ritmo e rotina. 

O ritmo é vital, sobretudo para alguém cuja vida ficou revirada após uma experiência traumática. Porque ritmo traz ordem e segurançal – seja no ritual de acordar e deitar, à refeição que inicia ou termina, ter a sesta, etc. Para além dos pequenos rituais nas ações quotidianas, podemos trazer também canções, versos e jogos rítmicos. 


    3) garantir uma nutrição tão rica quanto possível. 

A nutrição afeta a saúde, o sistema imunitário e também a condição física. A alimentação deve tornar-se uma das prioridades no processo pós-trauma, dedicando especial atenção às vitaminas. 


    4) brincadeira ativa, sob observação. 

Muitas vezes a criança não consegue pôr por palavras aquilo que sente. A brincadeira e/ou as artes podem tornar-se as suas palavras, a sua expressão: desenhar, pintar, escrever, cantar, criar, etc. Depois de um trauma, a criança vai readquirindo aos poucos o sentimento de controlar algo, através da brincadeira. Pode representá-las com bonecos ou assumir uma «personagem», projetando neles o que sente ou vivenciou. Portanto, é conveniente que façamos uma observação cuidadosa da brincadeira, porque se não tiver limites também pode levar a criança a reviver o trauma de uma forma dolorosa, em vez de o curar.   


    5) criar movimento. 

A criança que sofreu um trauma fica geralmente tensa e pode ter medo de se mover. Mas o movimento desenvolve tanto a saúde mental como a física, como sabemos. Devemos encorajá-la a movimentar-se, a caminhar, a correr, saltar, nadar – tendo em consideração, obviamente, o estado físico em que a criança possa estar após uma situação que tenha afetado o corpo físico. 


    6) proporcionar-lhe relaxamento. 

Quando pensamos em relaxamento, uma das imagens que nos surgem imediatamente é: massagens. Um óleo (de amêndoas, ou até azeite) com 1 ou 2 gotinhas de óleo essencial de alfazema têm um efeito mágico e calmante sobre a pele. Há também técnicas de respiração bastante eficazes para que a criança relaxe das reações fisiológicas sofridas após o trauma. 


    7) treinar o foco e a memória. 

Após uma experiência traumática, a criança facilmente se desconcentra. Ouvir histórias, criar trabalhos artísticos, fazer trabalhos manuais, jogos de memória, puzzles, jogos de coordenação e jogos de paciência são muito eficazes na recuperação da concentração e da memória. 


    8) criar atividades que apelem a novas competências. 

A criança possivelmente apresenta agora uma certa apatia (para além de baixa auto-estima) pelo que é necessário aos poucos confiar-lhe pequenas tarefas exequíveis, tais como manualidades, tarefas de jardinagem... No fundo, tarefas com alguma responsabilidade em que os mais pequenos se sentem capazes de concretizar e, assim, mais importantes. 


Proporcionar segurança e proteção, criar laços emocionais confiáveis, desenvolver a auto-estima, reduzir o desgaste emocional e criar uma atmosfera de grupo positiva resulta na ativação das forças de autocura das crianças e jovens traumatizados. 


Finalmente, um outro factor importantíssimo é celebrar as alegrias, mesmo que sejam apenas alguns «golden moments» – e há sempre algum. Valorizar e realçar cada um desses momentos de ouro do dia a dia, aliando-os a uma comunicação empática e a memórias positivas, é trabalhar para o fortalecimento do sistema imunitário da criança e cura a todos os níveis! 


Em Amor...
Com Alma, Corpo e Mente.





Marta Peral Ribeiro 

martaperalribeiro@gmail.com 

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