sábado, 1 de fevereiro de 2020

Os 9 anos ou a Fase do Rubicão



 A fase dos 8-11 anos é um dos momentos mais decisivos da vida humana. Surge na criança o medo da morte, de se separar de quem mais ama, as dificuldades de adormecer, as crises de solidão e a mudança de comportamento e até de olhar. É uma fase de incubação da adolescência que há-de vir. Bem-vindos à fase do Rubicão.

 

Por quê “Rubicão”?

Para assumir o Império Romano, Júlio César começou por tomar uma decisão difícil e arriscada: atravessar o rio Rubicão, cuja travessia era difícil e sem possibilidade de retorno. Na Roma Antiga, era proibido entrar na cidade-estado de Pompeia através daquele rio. Ao fazê-lo, Júlio César gerou uma guerra civil que acabou por vencer, tornando-se assim imperador. 

Como é que esta história se relaciona com a fase dos 9 anos das crianças? 

Muitos de nós já ouvimos falar de casos de crianças que por volta dos 8-11 anos começam a ter medo da morte: que a mãe morra, ou que o pai morra, que o cão morra… Inclusivamente à noite têm dificuldade em adormecer, querem o colo e os abraços da mãe e que ela fique ao lado até conseguirem entregar-se ao sono. Quem sabe, ainda se lembra de isso lhe ter acontecido a si?
A fase do Rubicão é das mais importantes das nossas vidas: é quando a criança compreende que nem tudo é como ela pensava e se apercebe que já não é propriamente criança (e não vai voltar a ser). Que o Pai Natal afinal não existe, que a mãe e o pai afinal não são perfeitos, que já não é o menino pequenino que era. Sentir que se está a perder a infância, sobretudo sem entender ao certo o que se está a passar, convenhamos, deve doer muito.
Ninguém disse que ser criança é fácil. E as crianças têm dores reais. Fisicamente, nesta fase podem experimentar dores de estômago e dores de cabeça – que geralmente resultam de pesadelos que tiveram e se manifestam desta forma no corpo físico. Por outro lado, emocionalmente podem sentir uma grande solidão.

Ninguém fala da fase do Rubicão

Muito de fala da primeira infância e da adolescência, mas ninguém nos prepara para esta fase que é como que um vislumbre da adolescência. Ninguém nos avisa previamente que aquela criança que vimos crescer e sempre foi um doce, passa de repente a reclamar de tudo, a cobrar tudo com laivos de ditador, a dramatizar tudo. E que vai adquirir um olhar melancólico e vai chorar sem motivo aparente.

Como mãe/pai, como lidar com tudo isto? 

A fase do Rubicão é aquele momento em que nos apercebemos de que criar filhos vai muito além de lhes provermos o alimento e a cama lavada. Até então pensávamos que estávamos a fazer tudo bem. É um desafio constante, esta responsabilidade de formar um novo ser humano!

Tudo isto pode gerar na família uma enorme angústia, stress e desespero. Como mãe ou pai é normal que fique desorientada/o, que se culpe, que coloque em causa o seu papel, se está a fazer algo de errado, se está a criar uma criança mimada.
 Esta é uma grande oportunidade de auto-educação para os pais, pois é uma altura em que a criança precisa ainda mais de bons exemplos – que vão formar o seu carácter. E não é nada fácil, pois a sua sensibilidade também vai captar as nossas sombras.

Leia-lhe fábulas e histórias de aventura

As histórias são uma excelente maneira de transmitirmos valores e conselhos de uma forma indirecta, isto é, sem que a criança se sinta implicada.

Especialmente antes de ir dormir, é importante a criança ouvir histórias de aventuras. Para além de ser divertido e dinâmico, existe sempre o grande momento em que o herói, tal como a criança, se depara com um grande desafio. Nesse momento de conflito, o herói tem de decidir se vai pelo caminho mais fácil, ou se vai pelo caminho mais doloroso, mas necessário ao seu desenvolvimento. 

Tipicamente, sabemos que o herói ganha coragem e opta pelo caminho mais difícil, ultrapassando-se a si mesmo e conquistando a sua evolução. (Aqui por casa estamos a ler com entusiasmo “A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia”, de Selma Lagerlöf.)

Já as fábulas transmitem uma moral, e a criança retira delas a aprendizagem que precisar dentro de si.

Contacto com a natureza 

Leve o seu filho a passear num bosque ou a ver o mar. Sem dúvida, contemplar a força e a beleza da natureza é uma fonte de energia que apazigua qualquer indivíduo e traz esperança.

Desfocar de si mesmo

Ajude a criança a sair de si mesma, em vez de mergulhar ainda mais no seu próprio interior. Evite questioná-la sobre como é que se sente ou por que é que está assim.

Atividade física

Se o seu filho revelar interesse nalguma atividade física – como é de esperar nestas idades – é uma altura propícia para o permitir. É uma oportunidade de terapia, de extravasar o que sentem interiormente.

Conversem

Mostre disponibilidade genuína para ouvir o que a criança precisa de dizer. E para falar também. Quando conversamos com as crianças, elas aprendem a lidar com as suas próprias dificuldades de uma maneira bastante especial.

Preparar para o sono

À noite, dedique-lhe tempo e muito carinho na hora de ir dormir. Umas gotinhas de óleo essencial de lavanda, diluído em óleo de amêndoas doces, também ajudam a apaziguar.
Agradeçam juntos todos as coisas boas que aconteceram naquele dia. 

Entretanto, respire fundo. Se o Rubicão marca o fim da infância, também encerra uma grande semente: é um recomeço, com novos olhares para o mundo!


Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente


Marta Ribeiro
 martaperalribeiro@gmail.com


18 comentários:

  1. Nossa que bom ler isso.
    Minha filha tem dez anos, e eu nem conhecia essa fase...
    Gratidão essa matéria me ajudou muito.

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  2. Chorei lendo isso tudo, pois não sabia o que estava acontecendo com minha filha nem como agir com ela. Esse texto descreveu perfeitamente, vou pesquisar mais sobre. Muito obrigada!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Exatamente tudo o que estou passando com minha filha, muito bom ler tudo isso, pois estava me sentindo péssima como mãe.

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  5. Tudo isso tá acontecendo com Júlia e agente nem imaginava !

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  6. Adorei a matéria! Antes de começar a PANDEMIA DO COVID 19 estava passando por isso com minha filha de 9 anos. Exatamente assim. Estamos de quarentena e ela ainda pensa no medo que vai sentir quando as aulas começarem. Obrigada por ajudar como devo agir.

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  7. Puxa que texto surpreendente, exatamente por aqui estamos nesta fase!

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  8. Gratidão pelo texto tão esclarecedor. Estamos passando por isso com nosso filho de 8 anos e meio e já achava que estava fazendo tudo errado, mimando-o demais. Obrigada.

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  9. Grata em ler isso. Obrigada pela orientação. ♥️

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  10. Gratiluz por compartilhar!Passei por isso com meu filho aos sete anos e diagnosticaram como fobia escolar!Mas graças a Deus acolhemos e passamos bem por essa fase.

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  11. Muito obrigada por compartilhar essa valiosa informação!

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  12. Obrigada por esse texto esclarecedor, não tinha noção dessa fase, e é exatamente o q meu filho de 9 anos está vivendo... Sabendo disso fica mais fácil não julgá- lo e tbm ajudá-lo a passar por essa fase tão difícil e dolorosa pra ele.

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  13. meu filho tem 9 anos e chora muito antes de dormi não quer saber de dormir sozinho o que eu faço por favor me ajudem

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  14. Aaff tô passando por isso minha filha de dez anos viu uns vídeos de pessoa só te suicídio trai traumatizou com os vídeos

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  15. Gratidão por compartilhar esse texto. Estou passando um momento terrível...onde eu não estou encontrando mais forças para saber o que fazer com meu menino. Sempre foi uma criança maravilhosa. E está nessa fase e eu não tenho muito jeito...muita paciência. E estou buscando ajuda para lidarmos com isso bem e juntos... estou realmente triste e preocupada. Mas vejo uma luz, obrigada ❤️

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  16. Tô passando com minha filha de 11 anos

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