A fase dos
8-11 anos é um dos momentos mais decisivos da vida humana. Surge na criança o
medo da morte, de se separar de quem mais ama, as dificuldades de adormecer, as
crises de solidão e a mudança de comportamento e até de olhar. É uma fase de
incubação da adolescência que há-de vir. Bem-vindos à fase do Rubicão.
Por quê “Rubicão”?
Para
assumir o Império Romano, Júlio César começou por tomar uma decisão difícil e
arriscada: atravessar o rio Rubicão, cuja travessia era difícil e sem
possibilidade de retorno. Na Roma Antiga, era proibido entrar na cidade-estado
de Pompeia através daquele rio. Ao fazê-lo, Júlio César gerou uma guerra civil
que acabou por vencer, tornando-se assim imperador.
Como é que esta história se relaciona com a fase dos 9 anos das crianças?
Muitos
de nós já ouvimos falar de casos de crianças que por volta dos 8-11 anos
começam a ter medo da morte: que a mãe morra, ou que o pai morra, que o cão
morra… Inclusivamente à noite têm dificuldade em adormecer, querem o colo e os
abraços da mãe e que ela fique ao lado até conseguirem entregar-se ao sono.
Quem sabe, ainda se lembra de isso lhe ter acontecido a si?
A
fase do Rubicão é das mais importantes das nossas vidas: é quando a criança
compreende que nem tudo é como ela pensava e se apercebe que já não é
propriamente criança (e não vai voltar a ser). Que o Pai Natal afinal não existe,
que a mãe e o pai afinal não são perfeitos, que já não é o menino pequenino que
era. Sentir que se está a perder a infância, sobretudo sem entender ao certo o
que se está a passar, convenhamos, deve doer muito.
Ninguém
disse que ser criança é fácil. E as crianças têm dores reais. Fisicamente,
nesta fase podem experimentar dores de estômago e dores de cabeça – que
geralmente resultam de pesadelos que tiveram e se manifestam desta forma no
corpo físico. Por outro lado, emocionalmente podem sentir uma grande solidão.
Ninguém fala da fase do Rubicão
Muito de fala da primeira
infância e da adolescência, mas ninguém nos prepara para esta fase que é como
que um vislumbre da adolescência. Ninguém nos avisa previamente que aquela
criança que vimos crescer e sempre foi um doce, passa de repente a reclamar de
tudo, a cobrar tudo com laivos de ditador, a dramatizar tudo. E que vai
adquirir um olhar melancólico e vai chorar sem motivo aparente.
Como mãe/pai, como lidar com tudo isto?
A fase do
Rubicão é aquele momento em que nos apercebemos de que criar
filhos vai muito além de lhes provermos o alimento e a cama lavada. Até então
pensávamos que estávamos a fazer tudo bem. É um desafio constante, esta
responsabilidade de formar um novo ser humano!
Tudo isto pode gerar na
família uma enorme angústia, stress e desespero. Como
mãe ou pai é normal que fique desorientada/o, que se culpe, que coloque em
causa o seu papel, se está a fazer algo de errado, se está a criar uma criança
mimada.
Esta é uma grande
oportunidade de auto-educação para os pais, pois é uma altura em que a criança
precisa ainda mais de bons exemplos – que vão formar o seu carácter. E não é
nada fácil, pois a sua sensibilidade também vai captar as nossas sombras.
Leia-lhe fábulas e histórias de aventura
As histórias são uma
excelente maneira de transmitirmos valores e conselhos de uma forma indirecta,
isto é, sem que a criança se sinta implicada.
Especialmente antes de ir
dormir, é importante a criança ouvir histórias de aventuras. Para além de ser
divertido e dinâmico, existe sempre o grande momento em que o herói, tal como a
criança, se depara com um grande desafio. Nesse momento de conflito, o herói tem de decidir se vai pelo caminho
mais fácil, ou se vai pelo caminho mais doloroso, mas necessário ao seu
desenvolvimento.
Tipicamente, sabemos que o herói ganha coragem e opta pelo
caminho mais difícil, ultrapassando-se a si mesmo e conquistando a sua
evolução. (Aqui por casa estamos a ler com entusiasmo “A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da
Suécia”, de Selma Lagerlöf.)
Já as fábulas transmitem uma
moral, e a criança retira delas a aprendizagem que precisar dentro de si.
Contacto com a natureza
Leve o seu filho a passear
num bosque ou a ver o mar. Sem dúvida, contemplar a força e a beleza da
natureza é uma fonte de energia que apazigua qualquer indivíduo e traz
esperança.
Desfocar de si mesmo
Ajude a criança a sair de si
mesma, em vez de mergulhar ainda mais no seu próprio interior. Evite
questioná-la sobre como é que se sente ou por que é que está assim.
Atividade física
Se o seu filho revelar
interesse nalguma atividade física – como é de esperar nestas idades – é uma
altura propícia para o permitir. É uma oportunidade de terapia, de extravasar o
que sentem interiormente.
Conversem
Mostre disponibilidade genuína
para ouvir o que a criança precisa de dizer. E para falar também. Quando
conversamos com as crianças, elas aprendem a lidar com as suas próprias
dificuldades de uma maneira bastante especial.
Preparar para o sono
À noite, dedique-lhe tempo e
muito carinho na hora de ir dormir. Umas gotinhas de óleo essencial de lavanda,
diluído em óleo de amêndoas doces, também ajudam a apaziguar.
Agradeçam juntos todos as
coisas boas que aconteceram naquele dia.
Entretanto,
respire fundo. Se o Rubicão marca o fim da infância, também encerra uma grande
semente: é um recomeço, com novos olhares para o mundo!
Em Amor,
Com Alma, Corpo e Mente
Marta Ribeiro
martaperalribeiro@gmail.com
Nossa que bom ler isso.
ResponderEliminarMinha filha tem dez anos, e eu nem conhecia essa fase...
Gratidão essa matéria me ajudou muito.
Chorei lendo isso tudo, pois não sabia o que estava acontecendo com minha filha nem como agir com ela. Esse texto descreveu perfeitamente, vou pesquisar mais sobre. Muito obrigada!
ResponderEliminarComo me ajudou isso tambem minha querida.
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarExatamente tudo o que estou passando com minha filha, muito bom ler tudo isso, pois estava me sentindo péssima como mãe.
ResponderEliminarTudo isso tá acontecendo com Júlia e agente nem imaginava !
ResponderEliminarAdorei a matéria! Antes de começar a PANDEMIA DO COVID 19 estava passando por isso com minha filha de 9 anos. Exatamente assim. Estamos de quarentena e ela ainda pensa no medo que vai sentir quando as aulas começarem. Obrigada por ajudar como devo agir.
ResponderEliminarPuxa que texto surpreendente, exatamente por aqui estamos nesta fase!
ResponderEliminarGratidão pelo texto tão esclarecedor. Estamos passando por isso com nosso filho de 8 anos e meio e já achava que estava fazendo tudo errado, mimando-o demais. Obrigada.
ResponderEliminarGrata em ler isso. Obrigada pela orientação. ♥️
ResponderEliminarGratiluz por compartilhar!Passei por isso com meu filho aos sete anos e diagnosticaram como fobia escolar!Mas graças a Deus acolhemos e passamos bem por essa fase.
ResponderEliminarMuito obrigada por compartilhar essa valiosa informação!
ResponderEliminarObrigada por esse texto esclarecedor, não tinha noção dessa fase, e é exatamente o q meu filho de 9 anos está vivendo... Sabendo disso fica mais fácil não julgá- lo e tbm ajudá-lo a passar por essa fase tão difícil e dolorosa pra ele.
ResponderEliminarmeu filho tem 9 anos e chora muito antes de dormi não quer saber de dormir sozinho o que eu faço por favor me ajudem
ResponderEliminarAaff tô passando por isso minha filha de dez anos viu uns vídeos de pessoa só te suicídio trai traumatizou com os vídeos
ResponderEliminarGratidão por compartilhar esse texto. Estou passando um momento terrível...onde eu não estou encontrando mais forças para saber o que fazer com meu menino. Sempre foi uma criança maravilhosa. E está nessa fase e eu não tenho muito jeito...muita paciência. E estou buscando ajuda para lidarmos com isso bem e juntos... estou realmente triste e preocupada. Mas vejo uma luz, obrigada ❤️
ResponderEliminarExcelente abordagem!
ResponderEliminarObrigada!
Tô passando com minha filha de 11 anos
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