Era uma vez uma menina que não suportava calças e muito menos cabelo
cortado à le garçon...!

O padrão familiar do qual provenho é marcado por uma linhagem de mulheres
matriarcas cuja atitude apreendida foi a da mulher trabalhadora, educadora dos
filhos, a que está na linha da frente na resolução de problemas de toda a ordem
e a de achar que a ajuda de um homem era menos relevante. Neste sistema
familiar o padrão vigente foi sempre o de mulheres que tiveram de tomar
decisões importantes e em muitos momentos não se permitiram mostrar fragilidade
(embora a sentissem). Herdei, em alguns aspetos, este lado matriarca e o trazer
para mim muitas responsabilidades que não soube partilhar e gerir nos
relacionamentos conjugais que vivi custando-me, entre outros fatores, o final
dessas relações.
Entre muitas vivências doridas e outras prazerosas escolhi sempre extrair
as aprendizagens. Umas vieram mais rápido e outras mais lentamente pois integrar
mente (pensar) e coração (sentir) nem sempre é tarefa fácil.
O meu processo de cura e de despertar para o Sagrado Feminino iniciou,
conscientemente, em 2016 após vivenciar o luto de uma relação. Senti nessa
altura o chamado para integrar um clã de mulheres denominadas de Guardiãs do
Ventre e do Sagrado Feminino [1]onde acredito ter dado início ao resgate do meu
feminino sagrado.
Imagino que estejam a perguntar o que é o Sagrado Feminino?
Convido-te a interromper a leitura por alguns instantes e responder a ti
mesma/o o que representa o Sagrado Feminino para ti? Não há respostas certas ou
erradas...
Para mim representa escutar a intuição, a minha sabedoria interna,
despertar para os mistérios da Vida. O aceitar a fragilidade e, simultaneamente,
reconhecer e assumir o meu lado selvagem.
Ressalvo que o movimento do Sagrado Feminino não é igual a Movimento
Feminista (e nada contra!) mas se quisermos uma definição poderá dizer-se que é
“o resgate de uma consciência antiga que nos retorna aos valores de nós
mulheres num todo, social, pessoal, psicológico, religioso, cultural, além de
uma busca pela atitude ecologicamente correta” (2018, Gaya)[2].
Ainda em 2016 uma amiga incentivou-me a facilitar um Círculo de Mulheres.
Em cada Círculo de Mulheres[3] tive a oportunidade de me colocar ao serviço de
outras mulheres, assumindo o compromisso firmado quando me tornei guardiã do
ventre. Senti e sinto um verdadeiro retorno a casa. Algo que inexplicavelmente
vem de dentro e que transcende os aspetos racionais. Crê-se que os Círculos
sempre existiram como práticas em sociedades regidas por um regime social de
parceria e comunhão entre si e com a natureza. Após reunir algumas ferramentas
e a confiança necessária facilitei o meu primeiro círculo e a seguir a esse
vieram outros 14 círculos que se revelaram maravilhosamente enriquecedores...
Quando as mulheres se sentam em roda o sentimento de união e de igualdade emerge
(não há uma hierarquia), estamos de igual para igual a partilhar as feridas
emocionais num ambiente seguro e isento de julgamento. Estas feridas resultaram
de um passado marcado por uma civilização patriarcal em que as mulheres se
tornaram competitivas e desligadas da sua essência.
Da experiência que tenho vivido posso partilhar que as emoções e conexão
que se experimenta num círculo é algo de poderoso e transformador. A
cumplicidade flui, o espaço para a partilha surge, as dores atenuam e
lembramo-nos que não estamos sozinhas na Caminhada. Em cada círculo choramos,
dançamos, abraçamo-nos, confidenciamos histórias, pintamos, rimos, cantamos,
lembramos a doçura de se ser Mulher. Honrar a benção que nos está a ser
concedida.
Realço que o objetivo deste artigo não é crucificar os Homens nem gerar a
divisão, pelo contrário, é compreender que também os homens carregam as suas
feridas e que se trabalharmos para equilibrar estas polaridades (feminino,
masculino) em nós, por certo estaremos a contribuir para a criação de uma
sociedade mais amorosa em que as relações mulher-homem possam ser harmoniosas e
curadas lado a lado. Em Portugal já se facilitam Círculos de Homens onde também
é possível trabalhar o resgate do Sagrado Masculino[4] e Círculos Mistos
(Homens e Mulheres) [5]
O meu objetivo é lançar a semente para a compreensão do que representa o
Sagrado Feminino e a importância dos Círculo de Mulheres para as mulheres
contemporâneas em que me comprometo em levar este propósito mais longe!
Convido-vos a procurarem participar num Círculo de Mulheres perto de vocês,
por certo que encontram e sintam a experiência tirando as vossas próprias
conclusões!
Lembrar, por fim que “é através do regresso ao Círculo e à liderança
circular que iremos transformar a nós mesmas e ao mundo pois é nele que se
encontram as chaves para a União de todas as partes (2018, Inês Gaya)
Aho!
[1] As Guardiãs do Ventre e do Sagrado Feminino representam um clã de
Mulheres que têm como propósito assumir um papel ativo no despertar do Sagrado
Feminino.
Este Clã está ligado pela missão de Empoderar e Educar mulheres e homens,
repondo a verdade e curando as feridas de um passado marcado por uma energia
excessivamente castradora e patriarcal. Fonte: Gaya, Inês (2016). As Guardiãs
do Ventre e do Sagrado Feminino In Manual Guardiãs do Ventre e do Sagrado
Feminino.
[2] Sagrado Feminino. Fonte: (2018) Gaya, Inês. Sabedoria Ancestral para
Mulheres Contemporâneas In Manual Formação de Guardiãs de Círculos Feminos
[3] Círculos de Mulheres – São encontros em que mulheres se reúnem e
partilham as suas dores, as suas feridas emocionais com um propósito comum: Se
reconectar com a sua essência feminina resgatando o seu sagrado feminino e
melhorando e curando as suas relações com todos e com tudo o que a rodeia.
[4] Saber mais em http://www.newmentribe.com/sobre/
[5] Saber mais em http://www.inesgaya.com/facebook-events/circulo-yin-yang-lisboa-1027/
Teresa Peral