sábado, 12 de outubro de 2019

Irmandade Feminina


Desconhecia a irmandade entre as mulheres. Era-me mais fácil sentir a competição, a rivalidade e tudo o que isso pode atrair: desdém, separação, inveja, etc.


Como mulher havia (e há) partes do meu lado feminino que guardam feridas. Dores antigas, algumas criadas nesta vida e outras herdadas das minhas ancestrais.

Senti muitas vezes inferioridade em relação a outras mulheres. Ou porque as achava mais bonitas, com corpos mais atraentes, mais soltas, confiantes ou até mais inteligentes. Isso, sem me dar conta, era o impulso para buscar-lhes os defeitos. E estes estavam, obviamente, nas partes que eu reconhecia em mim como mais fortes.

Esta forma de sentir e organizar a relação com as que, afinal, são minhas irmãs não faz apenas parte da minha experiência. Estende-se também à vivência de outras mulheres.

Ensinaram-nos que só temos valor quando ouvimos que somos bonitas, se somos olhadas com admiração ou se somos exemplos de sucesso, reconhecidas pelos outros, sobretudo pelos homens, numa sociedade que se desenvolveu completamente apoiada num paradigma masculino de competição, individualização e separação.
Um paradigma que nos enfraqueceu porque nos retiraram a comunidade, o encontro em círculo (onde cada pessoa é única, nem melhor, nem pior) e a partilha honesta com pessoas com quem nos podemos mostrar completamente vulneráveis.

Foto de @neossisterhoodoutlookproject
Círculo de Mulheres facilitado por Inês Gaya
(https://www.inesgaya.com/)

Foi isto que encontrei quando me reaproximei das mulheres. Decidi voltar a este caminho sem armas, nem armaduras. Trouxe apenas coração e muitas lágrimas para chorar sobre as feridas antigas numa tentativa desesperada de as curar.

Encontrei mulheres iguais a mim, as mesmas dores, a mesma busca, a mesma vontade de estar em equilíbrio e sentir paz entre todas.

Estar com elas assim, vulnerável, trouxe-me as palavras que precisava ouvir e a medicina que não pude encontrar noutro lugar. Este reencontro brindou-me a sustentação em abraços fraternos, a compreensão em olhares comovidos e aceitação em palavras simples e sábias.

Sou grata por voltar a estar com as minhas irmãs, por estar consciente da forma como vejo cada uma como um espelho e por me ter aberto a este caminho de reunião e comunidade.

Em Amor,
com Alma, Corpo e Mente!

Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com

Texto originalmente publicado em:

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