quarta-feira, 18 de abril de 2018

A criança que fui, no adulto que sou...

“Nascemos originais e tornamo-nos cópias.”
Carl Gustav Jung

Cada um de nós como adulto tem um passado, nesse passado existe um pedaço do nosso caminho que chamamos de infância, período esse em que fomos crianças e essa criança permanece viva dentro de nós, habita o nosso corpo.

Dos 0 aos 7 anos vivemos o 1º seténio da nossa existência e nesse período estamos plenamente abertos e recetivos a tudo o que vem do exterior. Como se fossemos uma esponja; no entanto, sem limite de absorção. Não temos qualquer tipo de filtros e por isso tudo é válido e verdadeiro.
Assim sendo, os nossos pais, avós, professores, educadores, cuidadores, vizinhos,… Têm um papel muito influente. Não só porque tudo o que dizem é verdade para a criança, como o que fazem também serve de modelo para a estruturação da sua personalidade e mapa mental de crenças.

Quem somos hoje tem muita influência da infância que tivemos.

Essa infância nem sempre é cheia de sorrisos e gargalhadas. Sofremos carências, falta de amor, de apoio, de acolhimento, de segurança,… Pode ter sido pautada por rejeição e abandono… Violência emocional, mental e/ou física,… E todas estas experiências ficam registadas nas nossas células.
O que acontece é que como meio de proteção e sobrevivência vamos esquecendo esses momentos, reprimindo essas memórias e nem nos atrevemos a olhar para a nossa criança ferida durante muitos e muitos anos. Mas o facto de ignorá-la não significa que não permaneça em nós. E ela vai solicitando a nossa atenção, o nosso tempo, os nossos cuidados,… A nossa compaixão.

Para a (re)encontramos basta olhar para o nosso interior… Ela faz parte da nossa psique, é uma das nossas partes internas. Essa criança precisa saber que, como adultos que agora somos, estamos ali para ela. Que não precisa de procurar validação, amor, acolhimento,… Em outros adultos, nós estamos ali para lhe dar isso.

Ela precisa do nosso abraço! 

Precisa que lhe dediquemos 10 a 15 minutos por dia, para que a sanação, das feridas que foram abertas, aconteça.


Em várias tarefas do nosso dia-a-dia podemos convidá-la a estar connosco e podemos também perguntar-lhe o que ela quer fazer, do que tem saudades… E permitirmo-nos a realizar isso.

- Quais as tuas brincadeiras preferidas quando criança?
- Qual a tua comida preferida?
- Qual a tua sobremesa preferida?
- Recordas alguma coisa, que fazias na infância, que gostavas muito e não fazes há muito tempo?

Reflecte sobre estas questões e outras que te possam surgir e abre espaço na tua agenda para realiza-las… Abre espaço para esse (re)encontro com quem foste na infância.

“A criança que fui chora na estrada,
Deixei-a ali quando vim ser quem sou,
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui, onde ficou.”
Fernando Pessoa

Catarina Ferreira dos Santos
cathy.f.santos@gmail.com

Sem comentários:

Enviar um comentário