quarta-feira, 21 de março de 2018

Anorexia e Bulimia – Silenciosa espiral (quase) destruidora


O tema dos distúrbios alimentares ainda é um tema complexo para muita gente porém senti que ao escrever sobre ele poderia contribuir para que algum de vós que já tenha vivido um distúrbio alimentar ou esteja a trabalhar na sua superação, ou que conheça alguém a passar pelo processo possa sentir-se mais apoiado e saber que não está sozinho/a. Sair deste círculo vicioso não é fácil - implica saber pedir ajuda, ter o apoio de uma equipa multidisciplinar (medicina tradicional e/ou complementar), e otimizar a força de vontade para lidar com as recaídas – mas é possível!
Vou contar-vos a história de Joana.
Joana passou pelo divórcio dos seus pais quando tinha 12 anos o que na altura até lhe pareceu ser positivo na medida em que a tensão em que viviam a incomodava mais do que a ausência posterior do seu pai na casa onde tinha ficado a viver com a mãe e irmã. Aos 15 anos foi-lhe diagnosticada Anorexia Nervosa após ter chegado aos 46 kg e continuar a achar que estava gorda.
Joana recorda-se de estar no 9º ano de escolaridade e sentir uma tendência brutal para se isolar, para se refugiar no estudo e achar que a turma daquele ano letivo não gostava dela.
Recorda-se de ter tido grande dificuldade para se relacionar com as pessoas da sua idade durante aquele período da sua vida. Nas refeições em família Joana aproveitava as idas da sua mãe à cozinha, para colocar no guardanapo a comida que tinha no prato e em seguida ia deita-la na sanita. Fazia de tudo para não aumentar nem 1 grama de peso! A obsessão pela contagem de calorias era superior a si e estava determinada em controlar rigorosamente a ingestão de qualquer caloria que ultrapassasse o limite diário definido por si.
Nessa altura a família ficou desesperada, em particular a sua mãe. Joana recorda-se de ter tido uma infeção bacteriana resultante de uma profunda baixa de defesas do sistema imunitário e que se manifestou por bolhas em toda a pele fazendo-a parecer-se com um bicho. O seu cabelo estava sem brilho, tinha umas olheiras até aos pés, e da menstruação nem sinal! A sua mãe já em desespero resolveu tirar uma fotografia às costas de Joana num momento em que esta se encontrava a tomar banho. O seu objetivo era mostrar-lhe aquilo em que o seu corpo cadavérico se estava a transformar, na expetativa de que a sua filha tivesse uma verdadeira tomada de consciência. Não resultou pois a distorção da sua imagem corporal era tão grande que Joana continuava a ver-se gorda. Um dia levantou-se da cama e pelo estado desnutrido em que se encontrava desmaiou e fraturou o nariz. Nessa altura ficou em casa a recuperar não indo à escola durante algum tempo. Qual não foi o seu espanto quando os seus colegas de turma e uma professora lhe foram fazer uma visita levando flores e chocolates. A “sua” anorexia terminara ali. A consciência do mal que se infligia e o carinho e atenção recebido pelos colegas foram a fórmula perfeita para decidir que não queria mais aquilo para si.
Manteve-se sem perturbações alimentares durante alguns anos porém, após duas grandes perdas na sua vida, aos 25 anos regressou aos distúrbios alimentares, desta vez sob a forma de bulimia. Joana tinha episódios de ir à pastelaria comprar bolos de propósito e de os devorar em minutos, em seguida era acometida por um sentimento de culpa imenso e voava para o WC para provocar o vómito de tudo o que tinha ingerido.

Este hábito de comer compulsivamente e em seguida vomitar levava a que tivesse muitas vezes as glândulas salivares inchadas, retenção de líquidos, arritmias e tensão baixa. Embora tenha uma relação delicada com a comida, Joana decidiu superar estes distúrbios e hoje faz vigilância cerrada à sua mente comprometendo-se a evitar qualquer gatilho que despolete comportamentos autodestrutivos.
Esta história é apenas uma de muitas que existem e se mantêm no silêncio pois quem sofre de anorexia, bulimia ou de outros distúrbios alimentares esconde muitas vezes o seu comportamento por ser acometido de sentimentos de culpa.
O que são então os distúrbios alimentares?
 Os distúrbios alimentares como a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa caracterizam-se por ser perturbações no comportamento alimentar. São doenças psicológicas e embora existam outras vou-me circunscrever a estas duas perturbações.
Ambas têm em comum a preocupação excessiva com o peso e com a busca de um ideal de corpo perfeito mas enquanto a primeira se caracteriza por uma perda de peso intensa resultante da intenção de não comer e de uma distorção da imagem do corpo, a segunda corresponde a uma ingestão excessiva de alimentos num curto espaço de tempo e de forma compulsiva seguida por vómitos autoinduzidos ou uso de medicamentos para manter o peso controlado (Cordás, 2004)[1].
Estas não são doenças da moda, são doenças silenciosas e que efetivamente afetam a vida de muitos jovens e adultos, em especial das mulheres, e por consequência das suas famílias. Digo silenciosas pois muitas vezes a família e amigos nem imaginam o que se passa, desconhecendo a razão pela qual o/a doente evita refeições em grupo, porque corre para o WC a seguir a uma refeição, etc…
Segundo a Dr.ª Isabel do Carmo (2016)[2], do serviço de Endocrinologia do Hospital de St. Maria em Lisboa foi feito um estudo em escolas secundárias nos distritos de Lisboa e de Setúbal que revelou que 1 em cada 200 raparigas sofrem de anorexia. Na população universitária 3 em cada 100 sofre de bulimia. É caso para se refletir e ter uma ação preventiva ficando-se atento aos sinais desde o inicio.
Não paramos para perceber o que nos leva a comer compulsivamente nem para identificar os gatilhos emocionais que nos conduzem a uma anorexia e/ou bulimia e às compulsões alimentares, e esse é meio caminho andado para desenvolver estas perturbações. Consciente disto, Deepak Chopra[3] (2014, p.13), no seu livro Tem fome de quê?  refere que a solução para uma alimentação saudável é “transformar a sua consciência”.
 É impossível ter o controlo de todos os sentimentos e emoções que se vivem porém podemos aprender a gerir os pensamentos e a evitar os gatilhos emocionais que conduzem às compulsões alimentares.
Algumas dicas que poderão ajudar a evitar os distúrbios alimentares ou os gatilhos que lhes dão origem:
  • Procurares ajuda especializada (médica e terapias complementares);
  • Tornares-te consciente - identificares a emoção que sentes antes de ter o impulso para a compulsão;
  • Perceber se realmente sentes fome ou é apenas um impulso fruto de um estado emocional (tristeza, ansiedade…);
  • Beberes 1,5L litro de água/chá por dia para manter o estômago com sensação de saciedade;
  • Promoveres o teu bem-estar emocional;
  • Aprenderes a gerir o stress recorrendo à meditação e ao relaxamento;
  • Fazeres exercício físico;
  • Falares sobre o assunto com alguns familiares e amigos;
  • Fazeres atividades que te tragam alegria (Exemplo: caminhar na natureza, ler, pintar, dançar, estar com  os amigos, etc);
  • Escreveres sobre o assunto para libertar “o fardo”;
  • Fazeres afirmações positivas (A Louise Hay[4] tem livros e vídeos no Youtube que te poderão ajudar);
  • Trabalhares o teu autoconhecimento.

Quem já sofreu de distúrbios alimentares sabe que existe sempre a possibilidade de recaídas, assim como acontece com os transtornos aditivos, pois no limite procuram-se suprir necessidades de segurança, afeto, reconhecimento acabando por se preencherem vazios de forma rápida para atenuar a dor daquilo que não queremos sentir. Dói e causa sofrimento olhar para o problema e aceitar que não estamos sempre alegres e felizes mas quando escolhemos respeitar este Templo chamado CORPO, quando escolhemos honrá-lo ganharemos alegria de viver e resgataremos o nosso propósito nesta vida.
A boa notícia é que é possível sairmos da espiral fazendo as escolhas certas. É possível curar as feridas emocionais que conduzem a este flagelo, é possível voltarmos ao equilíbrio dos nossos corpos físico, emocional, mental e energético e para isso precisamos de estar dispostos à mudança. ACREDITA!
Nota final: Reforço que este post não substitui a procura de ajuda especializada na prevenção e tratamento de um distúrbio alimentar.

Teresa Peral



[1] Cordás, T. (2004). Transtornos alimentares: classificação e diagnóstico. In Rev. psiquiatr. clín. vol.31 no.4 São Paulo  2004, Recuperado de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832004000400003&lng=en&nrm=iso
[2] Carmo, I. (2016). Isabel do Carmo fala de anorexia. In Mulher Portuguesa Recuperado de https://www.mulherportuguesa.com/pessoa/entrevista/dra-isabel-do-carmo-em-entrevista-a-mulher-portuguesa/
[3] Chopra, D. (2014). Tem fome de quê? 1ª Ed. Amadora: Editora Nascente
[4] Louise L. Hay era uma notável conferencista e uma autora de prestígio internacional e publicou dezenas de best-sellers sobre auto-ajuda e meditação.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Não Quero Competir Mais - 5 Estratégias para viver em paz e comunhão

Aprendi que as características pessoais não servem de critério para definir a identidade de cada um(a). Quero com isto dizer que hoje já não digo que SOU competitiva e prefiro dizer: - Sinto-me competitiva, em determinados momentos.

No âmbito do Ser, acredito que sou outras coisas: ser humano, mulher, filha, neta, prima, amiga, etc. mas não sou ambiciosa, nostálgica, alegre ou outro estado ou condição temporários que me possam assistir.

Quanto à competitividade, o tema deste post, dei-me conta de que não é uma característica pessoal definitiva. Ela pode ser ajustada à medida que nos desenvolvemos e moldada à forma como preferimos encarar a vida e as situações.

Percebi que a competitividade me afecta mais de maneira negativa do que positiva. É uma habilidade que já me serviu de impulso no passado, ajudou-me a chegar mais longe, a fazer várias coisas com mais qualidade e, sobretudo, a receber reconhecimento vindo dos outros. Porque, afinal, vivemos numa sociedade competitiva e pessoas que competem valorizam isso nas outras.

Ainda assim, dei-me conta de que cada vez que embarcava num desafio, movida pela vontade de competir, de ter mais e fazer melhor, tinha sempre por base outro processo: a comparação. Faço melhor, trabalho de forma mais eficiente, viajo por mais países… em rivalização com outra(s) pessoa(s). Também usava a comparação comigo mesma, com quem acreditava que fui no dia ou no ano anterior ou até mesmo noutra época da minha vida.


Tomei consciência de que a competitividade me levou várias vezes a estados de insatisfação e frustração. Na base de um comportamento que me movia face aos meus objectivos, estava esta necessidade oculta de “precisar de ser melhor”. Estava presente tanto em objectivos grandes como também em coisas simples, triviais e do dia-a-dia.



Garanto-vos que é um processo cansativo porque acredito que nunca se chega a ser melhor do que ninguém, nem mesmo melhor que nós mesmos. Somos o que somos e temos o que temos em cada momento. E isso é o que está bem. É o que está no seu lugar e o que nos pode dar a paz de viver no presente, satisfeitos com a forma como nos vemos no único momento que existe: o agora.

Quando “sinto que preciso ser melhor que…” estou a enviar-me a mensagem de que não valho, não tenho ou de que não estou a alcançar algo. Foco-me num estado de ausência e de vazio e, claro, isso conduz-me a estados de frustração e desilusão.


Assim, procuro encontrar formas mais criativas e harmoniosas para transcender esta necessidade que alimentei durante tanto tempo (e que possivelmente vai necessitar de atenção durante toda a minha vida).






·         Cuido da forma como penso e como falo comigo

Evito pensamentos de comparação. Reconheço as qualidades das outras pessoas e procuro enaltece-las, fazendo o mesmo com as minhas. Busco adaptar-me e render-me a uma forma de pensar que sinto que me traz mais paz, segurança e auto-estima.

·         Altero o foco para a valorização, gratidão e satisfação

Esta é a famosa opção de ver o copo meio cheio. Valorizo e aceito as características que tenho e o percurso que fiz. Não de forma comparativa mas tomando consciência de que em cada momento fiz o melhor que podia com os recursos (externos e internos) que tinha ao meu alcance. Agradeço cada dia e cada acontecimento procurando integrá-los como bênçãos por aquilo que são, não focando o que está em falta ou que ainda está por vir.

·         Entendo que competir não é inevitável

A Era e o modelo social em que crescemos e vivemos ensinou-nos que somos regidos pela lei do mais forte, criando-nos a necessidade de conquistar uma posição elevada ou poder sobre algo.

Defendo que este não é o único modelo funcional. Acredito num posicionamento social sem hierarquias e em formas de organização colaborativas. Já existem comunidades e grupos que se gerem com base nestes modelos. Então porque não buscar mais conhecimento e proximidade relativamente a eles e começar a ocupar o nosso lugar no seio deste paradigma?

·         Fazer e querer atingir projectos e objectivos por amor aos que decidimos empreender

Podes chegar a questionar:

- Se tudo está bem como está e agora não quero competir mais, vou deixar-me estar e ver a vida passar. É isso?

Do meu ponto de vista (que não é nem pretende defender uma verdade única) o objectivo não passa por deixar de fazer ou desafiar-se a chegar a outros lugares. A base desta questão tem mais que ver com a razão pela qual fazemos cada coisa. Abraçar cada desafio por amor a essa arte ou forma de estar é diferente de querer fazer para sentir-se melhor do que os outros. Fazer para mostrar que se faz, buscando reconhecimento. Então, faço algo simplesmente porque me nutre e alimenta e isso, em si, é a fonte da satisfação pessoal.

·         Colaborar e unir esforços (unir é melhor do que separar num mundo que quer que nos vejamos separados)

Novamente focando o modelo social actual, vemos que a competitividade nos conduz a uma necessidade de individualização, de separação dos outros e de desconexão de uma energia universal que nos une, fortalece e afecta a todos. Somos todos UM. Podemos identificar-nos mais ou menos com outras pessoas e gerir o nosso círculo de amizades e interacções da forma que for mais fluida para nós mas é importante vivermos em consciência de que todos estamos conectados e nos influenciamos energeticamente. Não há separação. À medida que me aceito e transformo, construindo um caminho de paz, estou a enviar essa energia aos que me rodeiam e para o mundo. Quando consigo encontrar o meu lugar nessa forma de estar, mais facilmente me aproximo de pessoas que querem praticar os mesmos valores. Vão-se construído círculos que se apoiam e vivem esta energia em comunhão. Nem sempre, num mundo tecnológico, estas pessoas estão fisicamente ao nosso lado, no entanto construímos juntos uma rede que se expande. À medida que essa expansão acontece, deixam de fazer sentido as lutas pelo poder e a necessidade de nos individualizarmos ou defendermos tanto. Há mais comunhão e amor partilhados, havendo cada vez menos espaço para o medo e a separação.

Daniela Toscano
danielalourotoscano@gmail.com